(IFFR2022) O mensageiro das nuvens - Meghdoot
COBERTURA DO FESTIVAL DE CINEMA DE ROTERDÃ (IFFR2022)
O MENSAGEIRO DAS NUVENS
The Cloud Messenger (Meghdoot)
de Rahat Mahajan (Índia, 2022, 148 min)
Mostra Tiger Competition
Se a Tiger Competition em geral
abriga filmes de vocação independente, com uma produção pequena, como o caseiro
mexicano Malintzin 17 (ver aqui), nos causa inicialmente um certo espanto um filme como
Meghdoot na competição principal, especialmente tendo em vista as diferenças
desse filme em relação a Pebbles (Pedregulhos), o filme indiano exibido na
Tiger no ano anterior e que acabou levando o prêmio principal da competição.
Enquanto Pedregulhos mostrava
uma Índia rural, por meio da relação brutalizada entre um pai e um filho,
Meghdoot já apresenta valores mais associados às imagens tradicionais que nós,
estrangeiros, temos da cultura indiana. Meghdoot é um coming-of-age, passado em
um rígido colégio interno no interior da Índia, e que um jovem estudante
rebelde se transforma pelo amor por uma estudante, e tem, de alguma forma,
superar uma maldição em torno dessa jovem. Ou seja, por um lado, o filme é um
ingênuo despertar do amor entre dois jovens colegiais, com aspectos de romance
juvenil. De outro, os aspectos místicos da cultura indiana são expressos por
essas divindades cujas aparições deslocam o filme de seu eixo mais propriamente
realista, inserindo uma camada fantástica. No entanto, o entrelaçamento entre
esses dois aspectos ocorre por uma narrativa bastante convencional, um tanto
engessada. O aspecto místico parece surgir como uma camada de mero exotismo que
busca despertar o interesse do espectador estrangeiro, mas sem um mergulho mais
profundo nas raízes ancestrais da cultura local. Ainda, os conflitos do filme
(o jovem rebelde contra uma instituição autoritária) são desenvolvidos de forma
superficial e romantizada, mantendo sempre o filme num “feeling good” da
construção de uma identidade própria desse coming-of-age. Assim, desperto a
atenção para o lado conservador desse filme indiano. Basta comparar as duas
escolas em Meghdoot e Pebbles para perceber de que lado esses dois filmes
estão. As diferenças não se manifestam apenas nos seus respetivos modos de
produção, mas em uma questão ética, em incorporar a crise como motor da
narrativa. Ainda que eu tenha problematizado Pebbles por outros aspectos (ver aqui),
relacionados a uma certa espetacularização da barbárie como estratégia de
choque, sua proposta está mais próxima do cinema de independente de invenção do
que do superficialmente belo mas convencional Meghdoot.
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