PALAVRA CRÍTICA



PALAVRA CRÍTICA




Foi muito enriquecedor participar do projeto PALAVRA CRÍTICA, série de TV realizada pela Opara Filmes (PE), com direção geral de Tiago Leitão e pesquisa de André Dib, com 12 críticos de cinema falando sobre seus processos de criação e influências. Sempre acho fundamental discutirmos a CRÍTICA e a CURADORIA no Brasil, e fico honrado em integrar esse tão seleto time de convidados.

É curioso FALAR sobre a palavra escrita. Tenho a sensação de que me expresso melhor por meio da palavra escrita do que pela oralidade. Com o texto, podemos ter o nosso tempo, voltar, revisar, escolher a palavra mais precisa. Ser preciso.

Em alguns momentos da entrevista-conversa, foram projetadas imagens no fundo do estúdio. Uma delas, previamente escolhida por mim, dizia respeito a um filme que fundou minha vida cinéfila, e que deixo como “foto de capa” do meu facebook. É uma imagem de NÃO AMARÁS, de Kieslowski.

Essa imagem me intriga porque nela encontro uma alusão ao próprio processo cinematográfico. Um menino (Tomek) espia sua vizinha no prédio em frente usando uma luneta. Essa vizinha é o amor, e, para amar, é preciso se expor (ex-por). É preciso sair do seu casulo (da sua sombra) e ir em direção ao mundo, buscar o amor, mesmo que se fracasse. A forma encontrada pelo tímido e desajeitado Tomek para estar mais perto de sua vizinha é por meio dessa luneta, que aproxima as distâncias por uma LENTE. Dentro do seu casulo, ele vê o mundo e sua vizinha no prédio em frente por meio de uma JANELA.

Nessa relação entre o interior e o exterior, entre si e o outro, entre o olho e a lente, entre a escuridão e a luz, existe uma relação de encontro que é a essência do que o cinema representa para mim. Essa necessidade de se ex-por, mesmo que resulte em fracasso.

Essa imagem (a feita pela Opara) em que eu apareço por sobre um desenho a partir desse frame de NÃO AMARÁS, ou seja, em que o plano desse filme me atravessa não apenas como imagem mas como um feixe de luz, projeta minha própria imagem a partir desse filme – algo que sinto ser profundamente revelador do que o cinema é em minha vida.


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