FORTALEZA (CIA. DITA) - DANÇA
FORTALEZA-DITA QUE GIRA E QUE VOA
Para quem esperava o jogo erótico-voyeurista de CORPORNÔ,
FORTALEZA, o novo espetáculo de dança da Cia. Dita, deslocou o público para um
outro lugar. Os corpos quase petrificados vão muito lentamente saindo de sua
paralisia para dar início a um movimento. A partir da respiração, os corpos
fundem sua inércia e entram num giro incessante, mais próximo a um ritual. Há
algo de quase primitivo nessa força dos corpos que se movimentam. Eles giram –
acredito que o círculo é uma figura que se desdobra na cena – formando relações
que entrecruzam o individual e o coletivo. Formam um coletivo mas cada um
mantém sua singularidade, sua expressão individual. Para isso, a apresentação
visual dessa movimentação quebra a ideia de perfeita simetria. A simetria –
elemento cartesiano, de reordenação do mundo sensível a partir de um padrão
exógeno – é aquele elemento que o cinema deve buscar romper se busca se
aproximar do mundo – já dizia Straub, um dos mais rigorosos cineastas sobre o
movimento. A ruptura com a simetria insere a ideia de fragmentação e desordem.
Romper com os padrões para insurgir. Volto ao cinema porque... o que sei eu da
dança? Rs. O que posso dizer sobre corpos que se movem? Volto então, para
tentar concluir esse arremedo de texto, ao título, substantivo que se remete a
uma ideia de resistência, mas que também, é claro, nos remete à nossa cidade.
Nessa forma brutal, que conjuga afeto e violência, profunda energia de criação
e ao mesmo tempo vazio, vemos um desejo de se inserir numa cidade que parece
não nos pertencer mais. A fotografia (projetada ao fim da apresentação sobre o
fundo do palco) volta a paralisar o movimento dos corpos. O final da
apresentação parece querer mover o próprio público do seu estado de inércia e
sugere a aproximação de todos (os bailarinos entre si e o público). Mas, com as
fotos, a cidade parece não responder muito bem a esse gesto. Mas de qualquer
forma, esses corpos estão lá, vivendo intensamente – até que tudo desapareça.
Se a cidade não respondeu a esse gesto nas fotos, ela
respondeu como carne. É impressionante ver em plena segunda-feira de junho os
ingressos se esgotarem mais de uma hora antes da (única) apresentação da
estreia de um espetáculo de dança contemporânea. Para abrigar as mais de 100
pessoas que não conseguiram ingresso, a direção do Teatro José de Alencar abriu
mais cadeiras e até as frisas do primeiro andar (a apresentação era
circunscrita ao palco principal com cadeiras postas no próprio palco).
Parabéns Cia. Dita, a todo o elenco e a Fauller Freitas, seu
diretor artístico. Que FORTALEZA voe!
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