(FESTIVAL DE BRASÍLIA) AFONSO É UMA BRAZZA



No Festival de Brasília, entre alguns curtas baladados e outros novos curtas que se propõem "escândalo", um curta surpreendeu positivamente todas as minhas expectativas: AFONSO É UMA BRAZZA. A princípio, curta selecionado pela "cota local", doc "simpático" sobre esse cineasta primitivo, amador que era Brazza, esse curta, em seus melhores momentos, me espantou por sua honestidade e sua simplicidade. O filme se concentra, em sua maior parte, na montagem de "making ofs" dos filmes de Brazza, com depoimentos do autor, e pequenos momentos em sua produtora. Fala-se sempre sobre cinema, a biografia só entra se ela for relevante para nos fazer melhor ver seu projeto de cinema. Vemos então como Brazza trabalha, como ele chega às soluções no processo de seu filme. Mas o que é encantador nesse curta tão simples é que os diretores não buscam o lado exótico de Brazza, não querem fazer o espectador meramente rir de sua ingenuidade, não trata Brazza como um fantoche-humorista de cartum - o que a maior parte dos docs sobre o universo do cinema de bordas o faz. Muito menos romantiza sua ingenuidade, colocando-o como vítima ou idealizando o universo do cinema. AFONSO É UMA BRAZZA quer "apenas" mostrar, quer nos fazer conviver com esse mundo. Assim, o cinema se torna vida, e não mero objeto de enfeite numa prateleira para ser admirado. Os diretores não se colocam acima do filme, julgando Brazza, mas se propõem a olhar para ele - isso é lindo! Muitas das limitações do projeto de Brazza (suas contradições) mas também algumas potências dessa ingenuidade são colocadas de forma equilibrada, e especialmente humana, jogando verdadeiramente luz para um possibilidade de fazer cinema no Brasil - o fim do Cinema da Boca (a impossibilidade da manutenção desse modelo de produção). Por tudo isso, AFONSO É UMA BRAZZA é um curta que merece ser mais visto.
.

Comentários

Postagens mais visitadas