MOONRISE KINGDOM

Moonrise Kingdom
de Wes Anderson

O rigor, a beleza e a precisão de MOONRISE KINGDOM são evidentes e contagiantes. E fica claro que não é um filme meramente formalista, mas é honestamente envolvido com um tom muito particular de dar vida, fora dos limites do realismo, aos sentimentos de seus personagens, esses seres deslocados que querem encontrar o seu lugar no mundo. Wes Anderson consegue esse tom entre a comédia e o drama que vem caracterizando seus trabalhos anteriores, mas que cada vez mais vem se aliando a um profundo senso geométrico de composição. São crianças que não querem crescer, filmadas com uma lógica quase que dos quadrinhos. Mas confesso que fico com uma certa dúvida do acerto desse gesto. Fico com vontade de rever não só MOONRISE KINGDOM mas os filmes anteriores desse realizador. E no fundo acredito que talvez ele se equivoque. Seus primeiros fimes tinham um despojamento que me agradava mais. O profundo rigor de composição desse filme às vezes me incomoda em muito, como se oprimisse os personagens, ou ainda, como se o diretor estivesse mais preocupado em fazer cinema do que em abraçar esses personagens carentes. Existe uma certa beleza fria no gesto de Wes, em conseguir fazer um filme desses no meio do cinema americano de hoje, mas talvez ele tenha simplesmente, digamos assim, exagerado na dose. De qualquer forma, MOONRISE KINGDOM é impressionante, dá continuidade à filmografia de Wes Anderson, em como ele se aprimora como realizador. Mas confesso que fico com alguma dúvida se esse caminho o levará para algum lugar mais belo do que o simples RUSHMORE, que permanece, pelo menos para mim, sendo o filme mais expressivo de sua filmografia.


Talvez MOONRISE KINGDOM possa ser repensado sob o signo do afeto – esse termo “casca de banana” que tanto assola a produção jovem brasileira contemporânea. Esses dois personagens solitários que ganham força quando unem as suas solidões. Ao seu gesto de se afastar do mundo e ter uma vida isolada, a socidade reage – ela precisa que eles se integrem a ela. Para além da ourivesaria da composição dos planos de Wes Anderson, essas crianças subversivas respondem, ora com violência ora com afeto, essa tentativa de serem eles mesmos. Não é pouco; a natureza responde; há um pandemônio. Mas um caos e uma revolta extremamente controladas, em que há pouco espaço para o inesperado e para a sugestão. Ou para a vida. É isso que me incomoda nas opções de encenação de um filme tão delicado quanto MOONRISE KINGDOM.

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