Vuvuzelas de Madureira
Vuvuzelas de Madureira
de Vítor Medeiros
É difícil e dasafiador ver um curta como esse Vuvuzelas de Madureira. Para reconhecer seu valor, é preciso acima de tudo ser um bom espectador, tarefa cada vez mais difícil no mundo de hoje poluído pelas imagens audiovisuais, banais e estéreis. Ou ainda, para ver Vuvuzelas, é preciso deixar um monte de coisas para trás. Digo isso porque a princípio as pessoas podem gostar de Vuvuzelas pelos motivos errados (pelo tom simpático dos personagens, ou ainda, seu tom exótico, pitoresco, ou engraçadinho) ou ainda detestar o filme pelos mesmos motivos (outros, mas no fundo os mesmos). Em Vuvuzelas de Madureira, Vítor Medeiros acompanha os preparativos de uma família (a sua própria) para os jogos do Brasil na Copa do Mundo (a compra de bandeiras e fitas no Mercadão de Madureira, os preparativos do banquete, a reunião conjunta para ver o jogo, a comemoração dos gols, etc.). Vítor “apenas” observa, mas o trunfo de seu filme, extremamente simples, mas extremamente belo, é exatamente este: o de saber observar. Ele simplesmente sabe registrar a beleza simples que é esta família estar junta. Seu olhar afetuoso e generoso vai na contramão de um julgamento do comportamento das pessoas quando vêem os jogos do Brasil. Se elas parecem alienadas ou patéticas, é porque o espectador não sabe ver. Vuvuzelas é o Pacific de Madureira: ele descontrói o olhar que estamos acostumados, que a televisão, que o clipe, que o cinema convencional nos oferece sobre tanto a periferia quanto a possibilidade de ver o outro na tela. Vuvuzelas é precário: no entanto essa precariedade é sinal de uma potência, um autêntico filme caseiro. “Estar junto”: filme de vocação genuinamente popular, filho legítimo do cinema da periferia, diferente das “cufas” e dos “cinco vezes” da vida. No entanto, o olhar de Vítor não é meramente deslumbrado: há uma espécie de epílogo, em que Vítor sabe observar que, após o jogo, vem a novela; ou ainda, que, após o banquete, sobram os restos na mesa, e a casa, vagarosamente, vai ficando vazia, e o dia cai. Seu filme acaba num ponto após a curva, depois do silêncio das vuvuzelas. Como cigarras, seu canto dura pouco: apesar de estridente e precário, é possível dizer que “é bonito o canto”. A simplicidade, a generosidade e a afetividade do olhar de Vítor torna Vuvuzelas um dos mais singelos documentários de 2010, um retrato digno, sem espalhafato e sem espetáculo, sobre não só a vida das periferias mas essencialmente sobre o prazer de uma família estar junta.
de Vítor Medeiros
É difícil e dasafiador ver um curta como esse Vuvuzelas de Madureira. Para reconhecer seu valor, é preciso acima de tudo ser um bom espectador, tarefa cada vez mais difícil no mundo de hoje poluído pelas imagens audiovisuais, banais e estéreis. Ou ainda, para ver Vuvuzelas, é preciso deixar um monte de coisas para trás. Digo isso porque a princípio as pessoas podem gostar de Vuvuzelas pelos motivos errados (pelo tom simpático dos personagens, ou ainda, seu tom exótico, pitoresco, ou engraçadinho) ou ainda detestar o filme pelos mesmos motivos (outros, mas no fundo os mesmos). Em Vuvuzelas de Madureira, Vítor Medeiros acompanha os preparativos de uma família (a sua própria) para os jogos do Brasil na Copa do Mundo (a compra de bandeiras e fitas no Mercadão de Madureira, os preparativos do banquete, a reunião conjunta para ver o jogo, a comemoração dos gols, etc.). Vítor “apenas” observa, mas o trunfo de seu filme, extremamente simples, mas extremamente belo, é exatamente este: o de saber observar. Ele simplesmente sabe registrar a beleza simples que é esta família estar junta. Seu olhar afetuoso e generoso vai na contramão de um julgamento do comportamento das pessoas quando vêem os jogos do Brasil. Se elas parecem alienadas ou patéticas, é porque o espectador não sabe ver. Vuvuzelas é o Pacific de Madureira: ele descontrói o olhar que estamos acostumados, que a televisão, que o clipe, que o cinema convencional nos oferece sobre tanto a periferia quanto a possibilidade de ver o outro na tela. Vuvuzelas é precário: no entanto essa precariedade é sinal de uma potência, um autêntico filme caseiro. “Estar junto”: filme de vocação genuinamente popular, filho legítimo do cinema da periferia, diferente das “cufas” e dos “cinco vezes” da vida. No entanto, o olhar de Vítor não é meramente deslumbrado: há uma espécie de epílogo, em que Vítor sabe observar que, após o jogo, vem a novela; ou ainda, que, após o banquete, sobram os restos na mesa, e a casa, vagarosamente, vai ficando vazia, e o dia cai. Seu filme acaba num ponto após a curva, depois do silêncio das vuvuzelas. Como cigarras, seu canto dura pouco: apesar de estridente e precário, é possível dizer que “é bonito o canto”. A simplicidade, a generosidade e a afetividade do olhar de Vítor torna Vuvuzelas um dos mais singelos documentários de 2010, um retrato digno, sem espalhafato e sem espetáculo, sobre não só a vida das periferias mas essencialmente sobre o prazer de uma família estar junta.
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