Antonio Costa, no livro Compreender o Cinema, comenta uma cena de O Último Magnata, em que um roteirista conta uma sinopse que envolve um assassinato, e no meio dela, há uma cigarreira. O ouvinte pergunta “pra que serve a cigarreira?” e recebe a resposta “para fazer cinema”. Se o cinema pode ser definido dessa forma – ao mexer com a expectativa do espectador – o novo filme de Resnais é todo feito de cinema. É uma história de amor contada como um filme de espionagem (um filme de mistério), pois o outro é um grande mistério, pois a vida é um grande mistério, pois o cinema é um grande mistério, pois nós mesmos somos um grande mistério. E no final para que serve tudo isso? Ora, para fazer cinema.

Ainda assim não são como os filmes do David Lynch: Resnais não brinca de Império dos Sonhos. Porque não há jogo de quebra-cabeças, não há auto-referencialidades o tempo todo, não há jogos e dobras com o cinema de gênero. Há simplesmente um “jogar” no sentido amplo da palavra: um jogar lúdico, terrível e surpreendente.

Há um certo jogo kieslowskiano entre o acaso e as dobras de ponto de vista (ela não o quer; ele não a quer). Mas enquanto Kieslowski é assombrado pelas contrapartidas morais, pelas sombras da dúvida do destino, pelo vazio do sopro divino, Resnais parece mais encantado em sorver esses pequenos momentos, é mais curioso em avistar os horizontes, em deixar-se perder pelas bordas do plano, em fazer acrobacias no ar mesmo com um material que não seja o mais adequado.

Por outro lado, Ervas Daninhas é uma screwball comedy.

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