Viver a Vida (I)
Há algo de interessante nas novelas do Manoel Carlos, algo que me seduz. Já escrevi sobre o primeiro capítulo de sua novela anterior aqui. Nessa nova – Viver a vida – é incrível sua coerência, e são vários os paralelos. Essa novela começa com as belezas de Búzios que, pouco a pouco, vão sendo relativizadas. Primeiro um engarrafamento. Segundo, uma mulher histérica que quer saltar de um carro. Outra que pára um trânsito (a filha da anterior) e quase causa um acidente. Outra bebe. Outra fala publicamente que o marido é brocha. Outra xinga a modelo que tem inveja porque no fundo tem inveja dela. As coisas não vão bem: há algo de desconfortável por trás das belas (horrendas) imagens do Jayme Monjardim e da trilha à la bossa nova. Manoel Carlos é o nosso Douglas Sirk. Algo não está nada bem nesse mundo superficial. A filha quer se afastar da mãe porque quer recusar o fato de ser tão parecida com ela, não quer olhar de frente para a possibilidade quase inevitável de ter o mesmo destino que ela (o de ser uma “ex-miss”). A tal Helena tem uma família invejável mas uma irmã quase marginal porque provavelmente não agüenta conviver com tanta perfeição. O clima de beleza das misses é externo, por trás há a ganância, a competitividade, os egos. A reportagem de televisão que grava tudo mas não vê nada, nada do que está acontecendo. Aparentemente o mesmo clima fútil e superficial das “novelas passadas no Leblon” ,mas um olhar mais atento revela um exame duro, cínico, sobre as contradições da classe média alta brasileira, especialmente a futilidade do modo de vida carioca. E no fim, para confirmar a sua coerência, ele caga para os críticos e repete o recurso da entrevista no final, mesmo sabendo que é discutível. Aguardemos com interesse os próximos capítulos.
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