saber falar, saber ouvir

Há um momento em Entre os Muros da Escola, lá pelos 53´ de filme, em que há uma grande discussão entre dois alunos. Até que um deles, Souleymane, mostra uma tatuagem no seu braço onde está escrito “Se o que se tem a dizer é menos importante que o silêncio, cale-se”. Outro aluno simplifica a frase, dizendo que ela então significa “cale a boca”, mas Souleymane afirma que não, que é ela é bem diferente disso.

De fato. Essa espécie de frase-síntese é o avesso das estratégias de Entre os Muros da Escola. Faltou a Laurent Cantet essa “sabedoria dos deuses africanos”: antes de saber falar (por exemplo, as aulas de francês), deve-se saber ouvir. Entre os Muros da Escola é um filme (em) que (se) fala muito, mas pouco (se) ouve. Ou ainda, é um filme que não compreende que para melhor compreender os alunos seria preciso saber absorver os momentos de silêncio, as pausas, os intervalos, os tempos de espera. Se ele chega a observar alguns “entretempos” (um jogo de futebol, uma meia conversa entre professores), o faz não para observá-los como momentos latentes e sim como joguetes, como contrapontos críticos, quase cômicos, à estrutura em si do sistema educacional. Essa fissura entre o suposto estilo espontâneo do cinema direto e o mecanicismo da narrativa e das associações psicológicas é o que mais me agride no filme, isso se concordarmos que o seu pressuposto é se aproximar das pessoas mais do que da estrutura desse sistema.

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