os filmes-diários de mekas e as "videografias de si"

Para uma disciplina do mestrado, estou escrevendo sobre Jonas Mekas. Para o que nos interessa aqui, vai um fragmento, em que defendo a atualidade dos filmes de Mekas dada a produção de vídeos contemporâneos. E, claro, dado o que eu mesmo me proponho a fazer. (o felicíssimo termo “estética do descuido” vem da profa. Cristina Ferraz...)



Num momento em que se multiplicam as "videografias de si", estimuladas pela facilidade da captação das imagens pelos novos dispositivos digitais (webcams, celulares, pequenas câmeras digitais) e por novos meios de difusão (o youtube e portais do gênero), os filmes-diários de Jonas Mekas cumprem ainda um papel mais relevante: o de apontar para a possibilidade de falar de si sem cair no mero exibicionismo. Grande parte das "videografias de si" vistas nesses portais apresenta um descuido cuidadosamente orquestrado (câmeras caseiras na mão, aspecto relaxado, imagens pixeladas, ...), não como forma de subverter o bom gosto plástico das imagens cada vez mais publicitárias do mundo contemporâneo, mas como uma "estética do descuido" , um mero protocolo do "caseiro e do espontâneo". Ao invés de utilizar esses recursos como espelhos de uma autenticidade, revelam-se meramente estratégias protocolares para despertar a atenção para si, meros caminhos no acirramento de um processo contemporâneo de "espetacularização do eu".

Os filmes-diários de Jonas Mekas, e Walden em especial, em muito se distanciam da ideia do diário como um espelho de refúgio do mundo, recurso de isolamento do indivíduo em torno de seu próprio interior, ou um "encasulamento" egocêntrico em que o "eu" é o objeto exclusivo da obra. Walden, em especial, pode ser visto como uma crônica de costumes de toda uma geração de artistas na Nova Iorque do pós-guerra, onde são diversas as cenas em que se filmam encontros com outros artistas, de sua geração (como Stan Brakhage, Gregory Markopoulos, Marie Menken) e mesmo mais antigos (como a brilhante aparição de Carl Dreyer). Os filmes de Jonas Mekas, mesmo que com momentos de melancolia (pois a melancolia também faz parte do mundo) são sempre repletos de pessoas, rindo, conversando, se amando, vivendo. Como falamos antes, são acima de tudo cânticos de exaltação à possibilidade de estar vivo.

Comentários

mar disse…
Oi Ikeda
gostaria de ler o texto na integra.
tu me envia?
um abraço
mari

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