Minhas pequenas obras filmadas (devo dizer vídeos? devo dizer filmes? devo dizer trabalhos? devo dizer obras? devo dizer audiovisual?) sofrem de um inevitável paradoxo (claro, vou tentar mostrar que não se trata de paradoxo nenhum): são “vídeos amadores”, feitos apenas por uma única pessoa, completamente não-narrativos, baratos, leves, radicais, mas, ao mesmo tempo, não tenho o menor interesse de projetá-los num lugar diferente de uma sala de cinema, em que as pessoas assistam num lugar escuro, numa tela grande, sentadas, de forma frontal à tela, em que tenham uma experiência linear de assistir ao filme – do início até o fim – durante o tempo em que ele durar. Ou seja, todos os nichos e cacoetes relativos às novas tecnologias, quanto à captação e difusão dessas imagens, não me interessam. Quero uma câmera pequena e um modo “amador” mas me interessa um enorme rigor de um enquadramento, e não a “mobilidade” ou coisas do tipo. Me interessa fazer um cinema duro com o tempo escorrendo pelo plano com uma câmera leve, um modo de produção leve. Me interessa um cinema pesado que revele uma intimidade. Todas as “facilidades alternativas” das novas tecnologias em geral não me interessam, como as pessoas poderem assistir ao filme no seu ipod, por exemplo. A leveza da câmera e a facilidade do modo de produção não me interessam para buscar certos elementos tipicamente associados com esse modelo, mas, muitas vezes, para buscar o oposto disso, simplesmente porque acho que essas associações (“cinemão” nas salas, “cineminha” no ipod) não são imediatas.

Comentários

irmãos pretti disse…
uma vez eu vi o walden sendo projetado num quarto em um museu. o filme ainda continuava bonito, mas ainda assim, incomparável com a experiência que eu tive ao ver o filme todo do começo ao fim, sentado no escuro de frenta pra minha tv (infelizmente não foi num cinema). o museu me parece extremamente supérfluo (com suas exceções, evidentemente).
ricardo
Cinecasulófilo disse…
você tem razão, mas não quero cuspir pra cima hehe.... e de fato antes a TV que o ipod. é curioso mas o proprio Mekas defende bastante o ipod, museus e tudo o mais. ele acha que todos os espaços, todos os suportes devem ser aproveitados.

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