Ave Chantal!!!

Caros,
Aqueles que acompanham este blog devem saber (ou pelo menos imaginar, pressentir) que é enorme a emoção de poder acompanhar uma retrospectiva da Chantal Akerman aqui no Rio de Janeiro, inclusive com a presença da própria realizadora em um debate no CCBB, já que esta ainda pouco conhecida (pelo menos por aqui) cineasta belga passou a ser para mim uma das minhas principais referências cinematográficas. Foi uma descoberta relativamente recente mas completamente arrabatadora. Amor à primeira vista, caso raro para este oriental desconfiado e taciturno. Tive acesso aos filmes da Chantal após ter realizado meus pequenos trabalhos como EM CASA, DESERTUM ou CARTA DE UM JOVEM SUICIDA, e fiquei completamente abismado com os paralelos que via no próprio trabalho que venho tentando desenvolver. Em HOTEL MONTERREY, D´EST, NEWS FROM HOME e TOMBÉE DE NUIT SUR SHANGAI, filmes feitos num intervalo de mais de trinta anos, eu encontrava um diálogo impensável com meus longas-metragens absolutamente singulares, entre o documentário experimental e o diário de viagem, com planos bem longos e um enorme rigor ao exprimir esse distanciamento através de um espaço físico, refletindo a condição desse “olhar estrangeiro”. Já em JEANNE DIELMAN, eu encontrei um mundo: era a contrapartida ocidental do cinema de Ozu sobre a família. Ás vezes, chego a cogitar que JEANNE DIELMAN é o melhor filme da história do cinema, apesar de nunca tê-lo visto em película – coisa que o farei, ao que tudo indica, no próximo dia 19. Nunca o cinema foi tão preciso, tão economicamente preciso ao longo de suas mais de três horas de duração, ao mostrar o drama da condição humana: nunca uma câmera (um olhar) se colocou numa posição tão precisa entre a intimidade da devoção dessa mãe a seu filho e a seu cotidiano e o distanciamento da enorme solidão dessa mulher; nunca um filme pôde abraçar de forma tão doce e tão severa esse enorme desafio de viver, vencer a barreira irresoluta da duração dos minutos e enfrentar com dignidade a miséria de nossa pequenez. Nesse diálogo necessário entre seus trabalhos mais formalistas e os mais narrativos, nesse interstício delicado é que surge a marcante singularidade e a enorme coerência dos “afetuosamente frios” trabalhos dessa cineasta que tanto admiro e que vem me servindo como grande inspiração. As antigas referências vão ficando para trás: o que ontem era Kieslowski e Tarkowski, agora são Mekas, Straub e Akerman.

Alguns textos sobre Chantal Akerman já foram escritos aqui:
(não tive coragem para escrever sobre Jeanne Dielman e D´Est, meus preferidos!!!)

Hotel Monterey
http://cinecasulofilia.blogspot.com/2008/05/hotel-monterey.html

Tombée de Nuit sur Shangai
http://cinecasulofilia.blogspot.com/2008/05/tombe-de-nuit-sur-shangai.html

Les rendez-vous d´Anna e Toute une nuit
http://cinecasulofilia.blogspot.com/2008/02/duas-vezes-chantal-akerman.html

News From Home
http://cinecasulofilia.blogspot.com/2007/12/news-from-home.html

Chantal Akerman
http://cinecasulofilia.blogspot.com/2007/10/chantal-akerman.html

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