Barwy ochronne
Mimetismo
de Krzysztof Zanussi
CCBB 17 qui 19:30
**
Como sempre vou escrever meia dúzia de linhas tortas e rápidas sobre esse raríssimo filme do Zanussi, exibido na Mostra de Cinema Polonês no CCBB (aliás, bela iniciativa...). A tradução foi “Mimetismo”, mas eu prefiro “Camuflagem”, que é como o filme é conhecido internacionalmente. O filme, dos anos setenta, é um murro de mão fechada no regime comunista polonês. Mas com aquele humor sarcástico tipicamente polonês. Eu só havia visto um único filme do Zanussi, que já comentei aqui duas vezes por ter o melhor título da história do cinema “a vida é uma doença sexualmente transmissível”. Este “Camuflagem” se passa numa espécie de “colônia de férias” em que um grupo de estudantes de diferentes universidades se encontram para participar de um Congresso, em que será escolhido o melhor trabalho apresentado. O filme gira em torno de um jovem professor (idealista) e um velho professor, que é seu chefe (cínico), que esperam a chegada do vice-reitor (politiqueiro) para distribuir os prêmios. O filme então é sobre política e poder, mas no fundo é sobre “a perda da inocência” ou sobre as “ilusões perdidas”. O jovem professor descobre um mundo (um ritual de aprendizagem, quase como nos romances alemães do século XVI) através do outro professor, cínico e desiludido com o sistema educacional polonês. Mas ficamos com uma sensação de que na verdade o problema não é a Polônia, ou não é exatamente o comunismo, e sim no fundo o problema são as pessoas, o poder, a ilusão, a hipocrisia e tudo o que gira em torno disso. Zanussi apresenta esse microcosmo através de um filme extremamente falado, falado, falado, mas ao mesmo tempo com uma certa vontade de cinema, e algumas liberdades formais. Por exemplo, os primeiros cinco minutos do filme já são um mergulho no acampamento, sem fazer a menor questão de apresentar os personagens. Da mesma forma, a câmera é observadora, discreta, ligeiramente documental, com câmeras na mão que dão ao filme um aspecto mais relaxado. O final tem um certo exagero que me incomoda (a quase morte) mas a ironia mordaz, os diálogos ágeis, a visão ácida sobre a vida e sobre as pessoas, esse cinismo quase niilista parecem ser uma constante do cinema de Zanussi. Seu “cinema da inquietação moral” não tem as repercussões metafísicas ou existenciais do seu “xará” Kieslowski. O que parece ficar da vida e das pessoas é essa acidez e essa consciência do fim das ilusões e da necessidade da hipocrisia para continuarmos sobrevivendo em grupo.
de Krzysztof Zanussi
CCBB 17 qui 19:30
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Como sempre vou escrever meia dúzia de linhas tortas e rápidas sobre esse raríssimo filme do Zanussi, exibido na Mostra de Cinema Polonês no CCBB (aliás, bela iniciativa...). A tradução foi “Mimetismo”, mas eu prefiro “Camuflagem”, que é como o filme é conhecido internacionalmente. O filme, dos anos setenta, é um murro de mão fechada no regime comunista polonês. Mas com aquele humor sarcástico tipicamente polonês. Eu só havia visto um único filme do Zanussi, que já comentei aqui duas vezes por ter o melhor título da história do cinema “a vida é uma doença sexualmente transmissível”. Este “Camuflagem” se passa numa espécie de “colônia de férias” em que um grupo de estudantes de diferentes universidades se encontram para participar de um Congresso, em que será escolhido o melhor trabalho apresentado. O filme gira em torno de um jovem professor (idealista) e um velho professor, que é seu chefe (cínico), que esperam a chegada do vice-reitor (politiqueiro) para distribuir os prêmios. O filme então é sobre política e poder, mas no fundo é sobre “a perda da inocência” ou sobre as “ilusões perdidas”. O jovem professor descobre um mundo (um ritual de aprendizagem, quase como nos romances alemães do século XVI) através do outro professor, cínico e desiludido com o sistema educacional polonês. Mas ficamos com uma sensação de que na verdade o problema não é a Polônia, ou não é exatamente o comunismo, e sim no fundo o problema são as pessoas, o poder, a ilusão, a hipocrisia e tudo o que gira em torno disso. Zanussi apresenta esse microcosmo através de um filme extremamente falado, falado, falado, mas ao mesmo tempo com uma certa vontade de cinema, e algumas liberdades formais. Por exemplo, os primeiros cinco minutos do filme já são um mergulho no acampamento, sem fazer a menor questão de apresentar os personagens. Da mesma forma, a câmera é observadora, discreta, ligeiramente documental, com câmeras na mão que dão ao filme um aspecto mais relaxado. O final tem um certo exagero que me incomoda (a quase morte) mas a ironia mordaz, os diálogos ágeis, a visão ácida sobre a vida e sobre as pessoas, esse cinismo quase niilista parecem ser uma constante do cinema de Zanussi. Seu “cinema da inquietação moral” não tem as repercussões metafísicas ou existenciais do seu “xará” Kieslowski. O que parece ficar da vida e das pessoas é essa acidez e essa consciência do fim das ilusões e da necessidade da hipocrisia para continuarmos sobrevivendo em grupo.
Comentários
vou sempre dar uma passada aqui
abraço
Na verdade acho que a tragicidade desse personagem do “cínico” sempre esteve presente no filme, desde o início. Eu o vejo como de uma certa forma se identificando com o jovem professor: são personagens-espelho. Mas talvez seja melhor ser sarcástico do que levar o mundo a sério e sofrer com isso, mas, claro, acaba-se sofrendo da mesma forma (mas de uma forma outra). E, claro, o "cínico" é um alter ego do próprio Zanussi. Por isso, no fundo, não seria exagero dizermos que no fundo o Zanussi é um romântico... infelizmente não consegui ver nenhum outro polonês... as sessões em vídeo me desanimaram... abs