(FESTRIO 1) LIVERPOOL

Liverpool
de Lisandro Alonso


Liverpool é o quarto longa-metragem do argentino Lisandro Alonso e o primeiro a ser exibido no Rio de Janeiro. Fantasma, o longa anterior de Alonso, fecha uma espécie de trilogia. Coloca – para si mesmo, para o espectador – uma questão: para onde caminhar?

Caminhar sem sair do lugar, mudar para continuar o mesmo, reacomodar – práticas típicas do comportamento zen.

Liverpool possui muitas semelhanças com o cinema anterior de Alonso. Fala, assim como Los Muertos, de um processo de busca às origens, de retorno a uma espécie de porto seguro interiorano para, lá chegando, descobrir que essa remota origem de tudo está definitivamente perdida, arruinada.

Esse caminho de busca no cinema de Alonso está refletido por um cinema que busca um espaço físico, uma geografia remota como uma cartografia de um íntimo perdido. É o barco que pára num porto para em alguns dias voltar a prosseguir viagem.

Esse espaço físico, no entanto, não é mostrado como no cinema de Reygadas, em que existe todo um deslumbramento meio que barroco com os espaços em espansão, com a natureza grandiosa que quase esmaga o Homem (vide o primeiro – e o último – planos de Luz Silenciosa). Em Alonso, a geografia física – protagonista – é espelho de uma fissura, é fator de silêncio.

Já em Fantasma estava claro que o grande mote do cinema de Alonso é o silêncio.

Esse silêncio – silêncio de um mundo – nos faz a quase todo momento acompanhar esse personagem sem saber ao certo quem ele é, o que ele procura. Como típico cinema contemporâneo, rompendo os movimentos de identificação, de psicologização, e de explicitação das motivações. Por outro lado, produzindo um cinema feito de tempo e de espaço: calçando um sapato, comendo um jantar, subindo na garupa de um caminhão.

Mas é preciso observar além, refletir sobre o papel do cinema, sobre o que são feitas as coisas. Há uma sutil mas importante mudança de mise-en-scene de Liverpool para seus trabalhos anteriores. Os planos longos, os tempos vazios, os movimentos de câmera que acompanham de longe o movimento dos atores, planos com pouca profundidade de campo, etc, que espelham uma busca por uma narrativa mais serena. Liverpool é um trabalho de depuração estilística em relação aos seus filmes anteriores. Nesse sentido, é um trabalho de maturidade.

Ao final, o cinema de Alonso tem um desfecho que, ao meu ver, é um tanto mais esperançoso que seus filmes anteriores, mais pessimistas. É como se Alonso tivesse feito um filme dos Irmãos Dardenne.

Liverpool está para o cinema de Alonso assim como A Criança está para o cinema dos Dardenne.


Por outro lado, Liverpool demonstra uma enorme acomodação no cinema de Alonso, revela que Alonso parece estar se deixando aprisionar pela enorme sedução do Festival de Cannes.

Liverpool aponta para frente e para trás. Resta ver em seu quinto filme para que lado afinal ele vem caminhando.

Comentários

Sérgio Alpendre disse…
acho legal que você gostou, mas realmente não entendo o auê que o Alonso provoca em tanta gente. La Libertad até tinha sua graça. Daí em diante ele piorou cada vez mais.
Cinecasulófilo disse…
Oi Sergio,
bem-vindo a este blog. Entendo quem não goste do cinema de Alonso, em especial este Liverpool, que alguns acharam "preguiçoso", ou "acomodado". O filme que mais gosto dele ainda continua sendo "Los Muertos". Esse filme acho uma obra-prima. Confesso que tenho alguns sentimentos contraditórios em relação a este Liverpool, em especial o de sentir que Cannes é uma espécie de camisa-de-força para o cinema de Alonso, que dá possibilidade (leia-se visibilidade) mas ao mesmo o aprisiona. Um abraço,
Sérgio Alpendre disse…
sim, é uma camisa de força mesmo. o único que gosto dele é o La Libertad, mesmo assim meio à distância.

abraço
Sérgio Alpendre disse…
ixi, depois que eu vi que já tinha comentado sobre o Libertad. foi mal... se bem que é um reforço, né? abraço
Sérgio Alpendre disse…
ixi, depois que eu vi que já tinha comentado sobre o Libertad. foi mal... se bem que é um reforço, né? abraço
Cinecasulófilo disse…
não tem problema... acaba contribuindo para aumentar as estatisticas de comentarios no blog... falando nisso acho que esse foi o topico mais comentado hehe abs
Luiz disse…
Ikeda,

Eu também gostei de Liverpool, mas ele está sim abaixo de La Libertad e Los Muertos. Não sei que caminho o cineasta vai percorrer a partir de agora. Aliás o encontrei no saguão do Espaço e quase perguntei (risos).

Uma boa dica para o festival é o site especial da Moviemobz: http://www.moviemobz.com/browse/festivaldorio2008

Já visitou?
Cinecasulófilo disse…
putz, nao sabia que ele estava no Rio... bacana... vou dar uma olhada no site especial... um abraço...

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