(um texto confuso sobre A Questão Humana)

Diante do que tem sido escrito sobre A Questão Humana, o aguardado filme do Nicolas Klotz, não tenho muito a dizer, mas não compartilho de todo um certo entusiasmo sobre o filme. Me parece que falta densidade à dramaturgia, coerência estética e vontade de cinema. Tive a impressão que o filme esbarra por muitos chavões de um certo cinema que se põe à margem para no fundo corroborar certos códigos narrativos/visuais. Não me pareceu legítima a forma como esse psicólogo de RH sofreu súbita transformação ao se defrontar com o problema do “grande chefe doente”. Não me pareceu convincente a forma como esse “grande chefe” é desenhado. Detestei a forma como “pequenos pontos de virada” são inseridos na narrativa por depoimentos dos outros, um recurso muito primário (especialmente as cenas com a esposa e a secretária do grande chefe). Klotz optou por um certo contorno psicológico do psicólogo que facilita a nossa identificação, e isso me incomoda bastante. O mandante da investigação é desenhado com um perfil simplista que também em muito me incomoda.

Embora a narrativa tenha tempos e elipses que carreguem o filme com um claro interesse, não me pareceu verdadeira a forma como os corredores (como o espaço físico) dessa grande empresa são desenhados. Tudo parece ser ambíguo mas é só aparentemente porque no fundo tudo já é dado de antemão, e isso é o que mais me incomoda nesse filme. Incrivelmente não gostei do Mathieu Amalric, acho que ele não cria camadas, ele faz tudo ficar meio reto, não sei. A forma como a vida pessoal do psicólogo é colocada (especialmente as raves) dá ao filme um certo vigor de cinema, mas em termos de dramaturgia é fraco, fica a meio do caminho entre várias coisas.

Mas quando o filme assume o seu tom político sobre o nazismo, aí eu acho que a coisa desanda de vez, porque associa coisas bastante diferentes de forma um tanto despreocupada, sem critério. Acho que o filme é ingênuo (a palavra é essa mesma, no mau sentido) ao se debruçar sobre o papel do indivíduo nas grandes corporações. Talvez seja implicância minha, mas achei que faltou consistência mesmo ao projeto de A Questão Humana. Não chego a achar tão ruim quanto A Agenda (na época esse filme me incomodou em muito), porque há uma certa elegância, uma certa “sinuosidade” na busca desse personagem que de vez em quando encanta, mas no todo, na minha avaliação, A Questão Humana não se sustenta.

Comentários

Anônimo disse…
ainda preciso rever, mas só posso dizer que acho o filme "ingênuo" sim, mas no "bom sentido". filme num tom só (veja a fotografia) e que tenta, nessa superfície, jogar com um sem número de elementos - narrativos, estéticos (todos esses que vc citou e se incomodou). e acho que o klotz faz muito bem esse processo, de ir dispondo esses elementos ao longo dessa superfície.

na verdade nem sei se acho o filme seja exatamente ingênuo, porque acredito que o klotz sabe o que está fazendo.

enfim, gostei bastante. mas espero poder rever ainda.

vc tem ido no fbcu?
Cinecasulófilo disse…
você tem razão, o termo "ingênuo' é impreciso, como imprecisos são vários termos desse post, mas acho que mais ou menos deu pra sentir o tom dos meus achados. abs

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