mais detalhes sobre as máscaras da nova crítica

O Daniel Caetano pede para que eu esclareça algumas coisas sobre o meu post sobre a "nova crítica", conforme o seu comentário visto aqui

Ele pede que eu faça a tréplica não ali, e sim em um post separado, mas dada a extensão do comentário, para não encher em demasia este espaço com esta questão, a resposta poderá ser lida aqui.

Comentários

daniel caetano disse…
Oi Marcelo,

te agradeço pela resposta sincera.

Quero te responder com a mesma sinceridade e clareza e, como vc diz que eu teria mais informações para avaliar o caso, te digo o seguinte: no que vc diz eu vejo um discurso que define um grupo fechado, coeso, unido em busca de uma ascensão política.
Cara, isso não é o que foi a contracampo.

Nem acho que será o que vai se tornar o site que talvez venha a se definir com o mesmo nome e a "equipe reduzida" - ao contrário, eu diria que a tendência é que cada vez mais seja uma revista descobridora de grandes talentos franceses e orientais. O Morris já atentou para o mesmo problema.

O que quero dizer? bem, Marcelo, vc falou bastante de si e eu precisaria falar de mim para responder. Mas o que quero dizer é que discordo inteiramente da visão da redação que a contracampo teve como um grupo uniforme. Isso não é o que se vê no site, e isso é que, se me permite a sinceridade, dá ao teu discurso um tom paranóico. Numa boa, bicho. Pense que não sou o único, em toda a redação, com quem vc já tomou cervejas.

Acho que o que considero teu equívoco parte dessa visão - vc aponta pra um grupo as questões de ordem direta, pessoal, que vc teve com algumas figuras que foram da revista. Cara, acredite em mim: o Ruy se manifesta de forma estranha. Uma coisa é o jeito dele, outra é vc considerar que possíveis grosserias dele contigo significam que todo um grupo se uniu contra vc. Cara, isso não rolou. E te justifico meu ponto de vista revendo uma evidência que vc mesmo apontou: bicho, vc citou um texto do Valente em que ele fez uma reflexão explícita sobre o que ele era e é, ou seja, um texto, bastante sincero e pessoal, e nesse texto ele cita duas críticas que considerou especialmente relevantes. Ele dá o link de um texto teu, assumindo que teve discordâncias contigo, e vc acha que isso é perseguição? Numa boa, na minha ótica isso é divulgação e elogio.

Quer dizer, em cada um desses eventos a gente poderia cair numa revisão de interpretação - mas o que eu quero te dizer é que isso não é orquestrado. Questões menores podem ter acontecido entre vc e pessoas que faziam parte a redação, mas a contracampo tinha espaço para seguir vários caminhos, um em cada edição ou mesmo vários numa mesma edição. Não acho que vc deveria tomar como questão pessoal teu nome não ter sido citado na linda mostra com os filmes do Tonacci em 2006 - o importante é que foi aquela mostra que permitiu que os filmes mais raros do Tonacci chegassem à gente e a mais um bocado de pessoas. Mas, pra vc ver como não é um lance pessoal, aquela pauta vinha sendo planejada por bastante tempo - a entrevista tinha sido feita oito meses antes; lembro que eu ficava pilhando pra fazermos logo a pauta e o Ruy falou, mais de uma vez, que a gente precisava esperar um mote pra ela - por exemplo, poderia ser a estréia do Serras. O mote acabou sendo a mostra que vc fez, bicho. Ela estimulou a revista, a revista ecoou ela. Mas é bem raro que os nomes dos curadores/produtores estejam nos textos que a contracampo fez sobre mostras - acho que isso não aconteceu, por exemplo, na da Agnes Varda, nem na do Jodorowski.

Enfim, é irônico que eu fique aqui defendendo a história da contracampo, mas a idéia é esclarecer meu ponto de vista sobre essa visão de "politicagem" e "carreirismo". Cara, todo mundo tem projeto de poder, no sentido de ser bem-sucedido e feliz profissionalmente - acho que a gente vai concordar que o que não pode é atropelar os outros pelo caminho. Mas explicitar as escolhas é um negócio que eu considero fundamental. Como eu disse, o que eu acho que vem acontecendo com a contracampo (sobretudo depois da saída do Eduardo e do Cléber e posterior surgimento da Cinética) é o abandono de todas as escolhas que estiverem implicadas com o nosso cotidiano. Um dos motivos de crise da contracampo é a crise dos seus editores com o papel de intervenção direta, com o papel de assumir posturas. Tentei tratar desse assunto no texto que publiquei no primeiro livro que organizei pela Azougue, texto que republiquei na web - se quiser dar uma olhada, está em http://daniel-caetano.blogspot.com/2008/07/ns-cinema-brazuca-em-situao-ps-colonial.html

Talvez esse texto seja a resposta mais sincera que eu possa te dar pra mostrar como divergimos sobre essas questões que te preocupam. Ele é também a evidência mais pessoal que eu posso te dar pra comprovar que os discursos da contracampo não são todos uniformes e as pessoas não são iguais.

É isso. De resto, quero te alertar também que vejo nesse problema da sua "invisibilidade" uma questão que não se sustenta. Como vc disse, apenas essa nossa conversa já provaria que vc pensa e se manifesta, logo existe e é visto. E o que está publicado na internet está no mundo pra ser acessado - então, se quer ser invisível, é melhor não publicar. Não me entenda mal, não estou dizendo pra vc não publicar - ao contrário, quero dizer que vc tem que relaxar e saber que tudo que é publicado é lido, e isso não é necessariamente um problema. Como vc vai ver que eu defendo no meu texto, acho que assumir visivelmente as nossas opiniões é algo bastante salutar. Afinal, o melhor é não ter medo de ser sincero, afinal de contas.

bem, tentei ser tão sincero e claro mas, pelo menos, escrevi tanto quanto vc.

abraço,
daniel
Cinecasulófilo disse…
Daniel,
Creio que a minha resposta, e depois a sua, e também o comentário do João Gabriel contribuíram para um debate minimamente mais amplo, mais verdadeiro sobre todas essas coisas. Que este blog tenha proporcionado isso é um sinal de alento. Ainda que pequeno, mas ainda assim que cumpre um certo papel.
daniel caetano disse…
Cumpre, com certeza. Sinceramente, acho que vc não deve se preocupar com a "visibilidade", ou melhor, não deve ver ela como algo negativo.
abraço,

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