"vagas reflexões" sobre SANSHO DAYU
O verdadeiro cineasta não é aquele que se preocupa em contar uma história e sim o que constrói um mundo. Se concordarmos que o cinema nos oferece essa possibilidade, vamos despertar para uma certa responsabilidade do artista. Quando vemos um filme como INTENDENTE SANSHO, entendemos um pouco disso. Não se trata de fazer um filme correto, mas de construir corretamente esse mundo. Não se trata de “colocar tudo no seu devido lugar” e sim de “colocar devidamente tudo em seus lugares”. Ainda não estamos tratando do cinema contemporâneo: SANSHO SAYU se limita a seguir os personagens em suas ações, e não promove um mergulho num tempo e espaço difuso em que temos impressões de um certo sentimento de mundo. É cinema moderno, das ações que revelam o ser, mas o que encanta em SANSHO DAYU é o seu imperativo ético: “há mais coisas entre um plano e outro do que supõe a nossa vã filosofia”. Aqui também não cabe o ascetismo de Ozu: há pessoas, drama, correrias, fugas, transformações sociais, situações extraordinárias, etc. SANSHO DAYU é vigorosamente filmado em externas com elaborados movimentos de câmera e enorme profundidade de campo, enquanto os filmes de Ozu são quase inteiramente filmados em estúdio com câmera milimetricamente estática e a lente padrão de 35mm. Mas no fundo há um enorme ponto em comum: a importância da família em meio às transformações de um Japão.
SANSHO DAYU é um filme sobre a família, sobre uma família que busca permanecer unida sob as mais inglórias circunstâncias. Eles são separados pelo destino, mas continuam unidos, sempre. Mas precisam retomar o núcleo familiar fisicamente, de forma a manter essa unidade. Essa é a forma de ver o filme através do plot, através das ações físicas. Mas na verdade não é disso o que trata o filme. Trata-se no fundo da possibilidade de permanência de uma forma de estar no mundo, de ver as relações de poder (justiça) e de viver em liberdade. Ou seja, o pai tenta cultivar uma planta, mas se seu próprio filho não é capaz de cultivá-la, quem seria? Ainda que “ser fiel a seus princípios” represente em última instância a dissolução física dessa mesma família, é sua única possibilidade de perpetuação. Isto é, é a verdadeira forma de essa família se revelar unida. Ainda que o mundo esteja cego a esses apelos.
No entanto, o que é bonito é o fato de que o filho percorre a sua jornada sem a preocupação de “passar uma mensagem”, de forma didática. Ele apenas quer “colocar as coisas devidamente”, e não “as coisas devidas”. É como faz Mizoguchi, com sua grande e discreta sabedoria oriental. A morte da irmã e o encontro com a mãe são dois dos grandes momentos da história do cinema japonês. E somente agora tive a consciência que a Naomi Kawase, no final de seu SUZAKU, retoma o emocionante final de SANSHO DAYU sob uma nova perspectiva.
SANSHO DAYU é um filme sobre a família, sobre uma família que busca permanecer unida sob as mais inglórias circunstâncias. Eles são separados pelo destino, mas continuam unidos, sempre. Mas precisam retomar o núcleo familiar fisicamente, de forma a manter essa unidade. Essa é a forma de ver o filme através do plot, através das ações físicas. Mas na verdade não é disso o que trata o filme. Trata-se no fundo da possibilidade de permanência de uma forma de estar no mundo, de ver as relações de poder (justiça) e de viver em liberdade. Ou seja, o pai tenta cultivar uma planta, mas se seu próprio filho não é capaz de cultivá-la, quem seria? Ainda que “ser fiel a seus princípios” represente em última instância a dissolução física dessa mesma família, é sua única possibilidade de perpetuação. Isto é, é a verdadeira forma de essa família se revelar unida. Ainda que o mundo esteja cego a esses apelos.
No entanto, o que é bonito é o fato de que o filho percorre a sua jornada sem a preocupação de “passar uma mensagem”, de forma didática. Ele apenas quer “colocar as coisas devidamente”, e não “as coisas devidas”. É como faz Mizoguchi, com sua grande e discreta sabedoria oriental. A morte da irmã e o encontro com a mãe são dois dos grandes momentos da história do cinema japonês. E somente agora tive a consciência que a Naomi Kawase, no final de seu SUZAKU, retoma o emocionante final de SANSHO DAYU sob uma nova perspectiva.
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