Festival in Cannes
Um festival em Cannes
de Henry Jaglom
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Uma surpresa este filme do diretor francês Henry Jaglom pouquíssimo conhecido no Brasil, lançado diretamente em DVD. Jaglom capta a essência dos bastidores de um grande festival de cinema como o Festival de Cannes, e filmou cenas durante o festival de 1999 para compor uma história de ficção sobre um conjunto de pessoas ligadas à atividade cinematográfica que se conhecem durante o festival e interagem tanto pessoalmente quanto profissionalmente. O filme é uma espécie de comédia romântica despretensiosa, mas por trás disso, há o estilo de Jaglom. De um lado, o diretor combina cenas documentais (registros da multidão na Croisette circulando durante o festival de 1999) com cenas ficionais, de uma forma inventiva. De outro, Jaglom demonstra o domínio de um cinema aberto para as possibilidades do ator, extraindo uma naturalidade e singeleza de suas interpretações, com diálogos que parecem livres para improvisações. Para isso conta com um time notável de atores, entre os quais estão ninguém menos que Anouk Aimée e Maximilian Schell.
Apesar do estilo leve e do tom de comédia romântica, Jaglom apresenta uma visão do festival de Cannes e do meio cinematográfico que está longe de ser glamourizada. Ao contrário, seu tom crítico é perceptível nas entrelinhas (a frivolidade e o clima de aparências, o jogo de interesses para se fechar acordos que extrapolam o lado profissional, etc). A base de plot do filme está na dúvida de uma veterana atriz (Anouk Aimée), indecisa entre estrelar um filme intimista de uma jovem atriz que estrearia na direção ou fazer uma ponta num grande blockbuster hollywoodiano. Ou seja, o cinema autoral europeu e o cinema comercial americano, ou ainda, o prazer ou o dinheiro, os sonhos pessoais incertos ou a possibilidade de “voltar à tona” com um filme de maior projeção. De outro lado, os dilemas de quem procura a mesma atriz para o seu filme: o filme autoral tem dificuldades de financiamento, e o produtor americano tem que rebolar para atender às exigências dos estúdios. Essas angústias são retratadas com honestidade por Jaglom, a partir de um roteiro com uma ironia fina, ainda que evidentemente se busque amaciar um conflito. Em forma de espiral desenvolve-se uma série de quiproquós, que aproximam o filme de uma espécie de uma screwball comedy, mas sempre vistos através de uma câmera livre, de um jogo lúdico com os atores, com a elegância e a delicadeza do bom cinema de Henry Jaglom.
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