cobertura
É preciso reconhecer (e no meu caso, não há o menor problema nisso): se ainda existe uma coisa fascinante em termos de crítica escrita no Brasil, esta é a cobertura do Valente no Festival de Cannes. (Uma boa piada seria dizer que às vezes eu acho que o Festival vale a pena apenas para ler esses textos...). Pois é tudo o que eu acho que “os textos sobre filmes” (não gosto do nome “crítica”) devam ser: há uma enorme paixão irrefreável, um desejo (uma necessidade) muito grande de se repartir isso com quem está lendo, e uma sensação (quase infantil) de que se está presenciando o “néctar dos deuses”, o “acontecimento dos acontecimentos”, e ao mesmo tempo uma visão nada glamourizada do festival de Cannes, isto é, o olhar de quem vai a Cannes “apenas” para assistir aos “melhores filmes do mundo”. Um texto como este http://www.revistacinetica.com.br/cannes08malestar.htm é muito espantoso. Porque, além de todo o rigor, de todo o olhar atento e carinhoso que Valente dedica a cada filme (note que ele não cita Deleuze nem fica especulando sobre as firulas: ele vai à essência das coisas), da importância de contextualizar para o leitor o “entorno” do Festival, quem prestar atenção vai ver que no fundo no fundo Valente fala de si mesmo. Através dos filmes, ele aponta os caminhos que ele deseja para o cinema e para o mundo: descarta o que não gosta, reclama, mas sempre com um desejo apaixonado de dialogar com o filme e de conversar com o leitor (isto é, e não com pose de connaisseur...). E isso é tudo o que eu defendo que a "crítica" deva ser...
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