(FESTRIO 8) O Assaltante

O Assaltante
De Pablo Fendrik
Espaço 2 sex
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O Assaltante (filme argentino do estreante Fendrik, exibido na Semana da
Crítica de Cannes 2007) é um pequeno formidável filme, que mostra um dia na
vida de um assaltante amador, que realiza dois assaltos: sua preparação,
seus procedimentos, sua frieza, o "depois", suas manias. Com isso, pensamos
imediatamente que se trata de Pickpocket, de Bresson, mas não é nada disso.
As questões que O Assaltante coloca são muito mais de natureza
cinematográfica do que de natureza moral. Mas isso não se justifica pelo
fato de o filme ser bastante amoral (por exemplo, não sabemos das motivações
desse assaltante, que aparentemente não rouba por necessidade) e sim porque
quase todos os seus elementos trabalham exatamente com a natureza específica
do cinema.
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O Assaltante é típico cinema contemporâneo, com uma câmera asfixiante
grudada a esse protagonista como se fosse seguir a cartilha dos irmãos
Dardenne, sem que nos dê muitas pistas sobre quem é esse protagonista e ao
mesmo tempo como se tudo o que importa no filme fosse exatamente saber
refletir sobre quem ele é. Mas a diferença é que Fendrik faz isso não para
conduzir o espectador para "uma questão maior que o filme" mas simplesmente
como um efeito de curiosidade e de suspense. Ora, porque a grande chave de O
Assaltante é a questão da verossimilhança: como roubando daquele jeito
aquele homem consegue escapar? Isso nos traz a questão das convenções: um
filme sobre um roubo PRECISA ser verossímil. Por isso o aparente realismo de
O Assaltante é quase surrealista: esse bom vivant desafia exatamente as
convenções da contravenção, pois o faz sem ferir ou machucar ninguém (ou
quase isso). Sua delicadeza e generosidade o tornam um avesso do estereótipo
do assaltante, mas isso não é feito para "humanizar" o contraventor, e sim
apenas o é dessa forma porque é um filme! A realidade e a representação
assumem formas ambíguas, que atingem um limite quando o homem desmascara
totalmente sua representação (dentro da representação): sua arma é de
brinquedo, que ele joga debaixo de um banco de praça.
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Filme baseado nas ações e nos tempos de espera, e especialmente nas falsas
pistas. É um filme sobre a representação porque o tempo todo é baseado em
falsas pistas, como se nós os espectadores fôssemos no fundo a "vítima" do
personagem de Fendrik. Estrutura dupla (falsamente dupla), entrechos
sarcásticos, como se fosse A Morte do Senhor Lazarescu às avessas (porque é
tão subversivo que chega a ser quase anarquista), O Assaltante escapa às
definições: parece uma mistura esquisita entre O Anjo Exterminador, Rosetta
e Doze Homens e um Outro Segredo.

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