Saneamento Básico
Saneamento Básico
De Jorge Furtado
Odeon 22 julho 18hs
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Os três primeiros filmes de Jorge Furtado tinham um princípio básico: a tentativa de articulação entre um cinema de contato com o público e uma certa referência de cinefilia. E faziam isso a partir de um “cinema jovem”, calcado num ponto: a dificuldade de expressar os sentimentos para a pessoa que se ama.
Mas aqui
O tema aqui é a metalinguagem, o cinema, ou seja, é um filme sobre um filme sendo feito. E mais ainda, um filme sobre o Brasil, sobre o cinema brasileiro, e isso é muito forte e presente no filme. A cidadezinha do interior tem dinheiro para fazer um vídeo mas não tem para o saneamento básico. As pessoas começam a fazer o filme para salvar a cidade e no final querem apenas salvar o filme, se promover pessoalmente e ficar bem na fita. Isso fala tudo sobre o Brasil e o cinema brasileiro. Desde “Mulheres à Vista” não há um olhar tão contundente sobre essa paixão mórbida que é o ato de fazer cinema, como as vaidades são uma feitiçaria, encantam e seduzem os pobres ingênuos, e o papel do Estado em tudo isso. Mas sem ser demagógico: ao contrário, o filme é uma crítica nada ingênua sobre a tentativa de descentralização de recursos culturais bancada pelo MinC a partir da gritaria geral dos produtores culturais fora do eixo do Sudeste. Quando “O Monstro do Fosso” é exibido para a platéia numa escola, e o personagem de Lázaro Ramos diz que “agradece ao prefeito por permitir fazer cultura sem precisar ir para Porto Alegre” a porrada é grande, porque de cultura, de arte, é óbvio que “O Monstro do Fosso” (ou seria “da fossa”?...rsrs) não tem nada.
Mas esse aspecto – crítico, atual e extremamente relevante – é basicamente um argumento de roteiro. E em seguida vem então como o diretor desenvolveu isso na tela. E é nisso que Saneamento Básico mais desaponta. Em seu quarto longa-metragem, Furtado tem uma direção quase televisiva: planos médios, personagens gritando, soluções grosseiras, etc. Alguém pode até dizer que ele faz um paralelo disso com a própria situação do filme (há uma cena clara em que, discutindo o roteiro, fala-se sobre um plano ponto-de-vista, e a câmera de Furtado faz um ponto-de-vista, etc.), mas é forçar a barra, ou ainda, defesa fácil. No fundo, o que se vê é uma certa acomodação de Furtado em relação à construção dessa gramática do filme. Se Meu Tio Matou um Cara era cheio de meios-olhares, aqui nada é implícito, tudo é o mais explícito possível, começando pela discussão entre os personagens, uma gritaria sem fim, que lembra os recursos dos novelões da sete da Globo (que em geral são terríveis de ruins).
O que não dá para entender são os críticos (novamente) quererem dizer que o filme é uma obra-prima e que é um retorno à linguagem do Ilha das Flores. Francamente...
Interessante por ser uma mudança, triste por esse desleixo da direção, ficamos com uma dúvida ao final de Saneamento Básico sobre o projeto de cinema de Jorge Furtado. Vejamos o próximo.
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