Une Vie

 

Une Vie

Alexandre Astruc

Emule, dom 24

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Esse final de semana vi Une Vie, de Alexandre Astruc. Sempre tive curiosidade de ver um filme desse realizador francês que é mais conhecido como teórico (seu famoso texto sobre a “câmera-caneta”) do que como realizador. Através do emule tive acesso a esse estranho filme. Muita coisa eu não peguei, já que vi o filme em francês sem legendas, mas mesmo assim o filme é muito impressionante. Aparentemente o filme é mais um exemplar do “cinema francês de qualidade”, uma adaptação literária com mão pesada e tons corretos. Mas pouco e pouco o olhar cinematográfico de Astruc se impõe. Na verdade já o faz desde o início, com um brilhante uso da cor e com planos longos que não raras vezes nos lembram do cinema de Max Ophuls. A história de traição a princípio não nos traz muito interesse, mas o tom ambíguo, um certo clima sensual e misterioso ao mesmo tempo, um olhar lúgubre, sempre triste, um ritmo solene mas profundamente observador. Grande filme esse do Astruc. O marido trai a mulher com uma, com outra; há um filho, que faz com que o casal se reaproxime, para depois se afastar: o que fazer? Delirante, perfeccionista, quase como uma valsa fúnebre, Astruc, com um total domínio da linguagem, acompanha essa decadência moral dessa mulher de uma forma que sabemos que uma tragédia iminente se aproxima. Mas sem deixar de ser profundamente respeitoso e apaixonado. Afinal, é possível se entregar às paixões desse mundo sem causar um enorme estrago especialmente a nós mesmos?

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