Babel
Babel
De Alejandro González Iñarritu
São Luiz 3 qua 20:50
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O modelo da narrativa clássica sempre buscou ser “um cinema da homogeneidade” que atraísse as mais diversas pessoas, de diferentes origens étnicas, classes sociais, formações pessoais, etc. É o velho dilema da cultura de massa: somos iguais na diferença, mas cada vez mais iguais, com necessidades e carências. A invisibilidade da narrativa é mero recurso para um cinema que guia o olhar e o desejo, que o reprime quando quer, e o liberta de acordo com suas conveniências. Ao mesmo tempo, nada há de mais universal do que o jardim da nossa casa, do que um casal e seus filhos. É assim que se “domestica o exótico” e se “pasteuriza o estrangeiro”. Daí os estereótipos, os preconceitos, em suma os “clichês”.
Por outro lado, é preciso mudar para que se continue o mesmo. É preciso que a narrativa clássica levemente se molde à multiplicidade e à histeria da velocidade contemporânea, e ao mesmo tempo é preciso ser mais particular para ser mais geral.
A proposta de Iñarritu em Babel é essa: quatro núcleos de personagens em quatro continentes. Quatro famílias: uma família marroquina, uma família americana, uma família japonesa, uma família mexicana. Quatro histórias que se ligam por um acidente.
Babel poderia se chamar Acidente. Mas acidental é tudo o que Babel não é.
Como um verdadeiro demiurgo, Iñarritu (e Ariaga) vai costurando essas tramas de forma paralela, criando uma tensão crescente, que sobe
Mas há um charme particular nesse espelho de um desencantamento, nessa peregrinação inútil, nesse discurso da miséria do homem, quando o filme foge do psicológico e deixa espaço para um certo tempo, um certo respiro para os personagens. Em especial a estroboscópica cena da boite, ou mesmo quando Brad Pitt levanta sua esposa para fazer xixi, ou quando o menino americano pega uma galinha.
Fico pensando em por exemplo como um Kieslowski trata questões quase semelhantes às de Iñarritu, mas de uma perspectiva completamente diferente. Para Kieslowski, o que interessava era o toque, o vento, um ou outro objeto, era o espaço, essas coisas. Em Iñarritu há questões grandes demais para o cinema, sem que tudo não caia num certo esquematismo. Ao mesmo tempo, sou um dos poucos que acha que as histórias não necessariamente se fecharem é algo bom, porque na vida as coisas não montam mesmo.
A questão do corpo no episódio japonês é algo que venho pensando. Ao mesmo tempo gosto e ao mesmo tempo acho terrível. A forma como essa menina se relaciona com seu corpo.
p.s.: a sessão de cinema foi uma das mais terríveis dos últimos tempos. O cinema completamente lotado de pessoas que riam na hora dos tiros, além do fato que eu sentei do lado de um cara obeso que ocupava duas cadeiras e que começou a feder e comecei a passar muito mal... enfim...
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