A Dália Negra

A Dália Negra

De Brian de Palma

Espaço Dragão do Mar 2, qua 11 16:30

***

 

Foi bacana ver esse filme do de Palma em Fortaleza, numa sessão durante a semana à tarde. E olha que eu nem gosto do de Palma e não tinha muita empolgação para ver esse filme, mas a experiência de tê-lo visto foi muito chapante. O filme é sensacional. Aliás, já começa a ser estranhíssimo pela produção, já que é um filme totalmente americano mas totalmente produzido na Bulgária (??) (globalização é isso aí).

 

A Dália Negra é uma espécie de filme pós-moderno, completamente antenado com a ponta de um cinema contemporâneo, não no sentido do cinema que vemos nos festivais, mas é um filme sobre a contemporaneidade em si.

 

O que me fascinou em A Dália Negra é que é um filme sobre as aparências, em como os personagens, as pessoas e as coisas são envolvidas numa espécie de véu que tem uma relação muito íntima com as convenções de uma sociedade (ou as convenções de um olhar, claro). Esse mundo de aparências, de véus e da superfície é apresentado por de Palma como um cinema suntuoso mas que tbem tem toda uma contrapartida com a questão do olhar. A questão do cinema de gênero e das convenções do cinema de gênero são problematizadas por de Palma. O filme é cheio de pistas falsas e de caminhos sinuosos e os personagens mergulham por eles em busca de sua própria identidade, fugidia. Achamos que o filme é sobre um triângulo amoroso e como a Johanson vai ser a femme fatale da história mas é tudo o contrário, é tudo diferente. As questões da identificação, do voyeurismo, do fetichismo, da escopofilia (o prazer da imagem, o prazer de estar sendo visto, de ser objeto do olhar, etc) são problematizados, reavaliados por de Palma.

 

Mas de Palma consegue tudo isso sem que o filme seja apenas esse jogo virtual de formas e símbolos como é nos outros filmes. Aqui é tudo orgânico, os personagens têm vida, estão em busca de uma identidade que eles não sabem o que é. Há um lado perverso e ingênuo em cada personagem, eles têm uma certa tendência para o mal que eles tentam controlar. Há uma certa hipocrisia latente naquela cidadezinha que parece que vai explodir mas nunca explode, fica represada nas entranhas dessa sociedade, a repressão, esse tipo de coisa. E, é claro, o cinema faz parte de tudo isso, o prazer, a perversão, a sedução, o crime, o poder, etc. O cinema está no filme, é um filme sobre o próprio cinema, o cara ricão fez dinheiro em cinema do cinema e da exploração dos miseráveis, etc, etc.

 

É incrível a luta de boxe no começo do filme, como duas pessoas “civilizadas” vão extravasar seus instintos naquela luta, e como o mocinho do filme perde a luta de propósito e como de Palma mostra isso. Isso já fala tudo sobre o filme e sobre o cinema do de Palma.

 

Adorei o ator que faz o mocinho. Ele nem é um grande ator mas é muito expressivo no filme. Os atores estão ótimos.

 

O final é muito lindo. Lindo mesmo. O filme é uma mistura de um melodrama de Douglas Sirk e um filme de gângster de... vejamos... de Raoul Walsh, sei lá.

 

É isso o que consigo dizer na correria.

 

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