Páginas da Vida

Com muita atenção (mas uma certa febre) acompanhei os dois primeiros capítulos da nova novela de Manoel Carlos, Páginas da Vida. Pra quem não sabe, gosto das novelas anteriores do autor, porque, se não são nada demais, elas tocam em temas que me interessam, e abordam essa fragilidade das relações entre os seres humanos que, em seus melhores momentos, têm um certo olhar afetuoso para as contradições dos personagens. É o espaço que se tem na teledramaturgia para o humano. Ainda que pouco ou tímido, é algo.

 

O início de Páginas da Vida foi surpreendente e impactante. Uma grande tomada de um coral cantando em pleno Cristo Redentor. Ao som de Cidade Maravilhosa, o Rio perfeito, harmonioso, turístico. Mas quase como um A Doce Vida, há uma aparição estranha, que começa a vir pelo som, quebrando essa harmonia perfeitinha do coral: um helicóptero, acima do Cristo. E esse helicóptero percorre o Rio repleto de favelas, e dentro desse helicóptero há policiais mirando a próxima vítima. E na bela praia de Copacabana (ou seria o Leblon?) mais um arrastão. Um menino foge da polícia pelas ruas e é atropelado por um carro. O carro que vinha atrás bate no da frente. As duas motoristas, mulheres. O policial e o bandido. Um tom meio que mistura Ônibus 174 e Cidade de Deus. Mas de qualquer forma, impressionou.

 

Um belo início.

 

Mas depois, a realidade.

O drama chororô. O melodrama surrado.

Me pareceu que Páginas da Vida é uma diluição das outras novelas do autor, sem a força anterior.

 

E como a direção do Jayme Monjardim é péssima! Porque as novelas do Manoel Carlos precisam ser dirigidas como “crônicas de costumes” e não como melodramas! O tom pesado e cerimonioso da mise-en-scene abafa a novela, que fica lenta, sem ritmo, chata. Como é mal decupada essa novela, de forma grosseira!

 

Tem uma menina brasileira que vive em Amsterdam. É a Fernanda Rodrigues, que é MUITO linda, e está bem por enquanto. As cenas é que são constrangedoras. Vi uma entrevista em que a direção de arte disse que “caprichou” no quarto dela em Amsterdam para poder mostrar um quarto de adolescentes, desarrumado, aquele clima caótico, meio diferente do que se espera do quarto de um ator global (palavras dela). Então vi com muita atenção o quarto da menina, porque esse tema me interessa em muito, o quarto como espaço de vida, o caos e a desorganização do quarto! E o que vejo? Lamentável! A desorganização é milimetricamente planejada: não pode ter uma poeira, nada. É a desorganização padrão Globo de televisão. Poucas vezes vi uma direção de arte tão triste como nesse quarto em Amsterdam!!!

 

A parte do melodrama da novela é muito rala. Notei também que o Manoel Carlos no texto investiu num certo tom meio vulgar com que as pessoas falam de sexo. Todo mundo trai todo mundo e todo mundo fala sacanagem. Meu lado moralista acionou as turbinas, mas a impressão que fica é de um total desencanto do autor em relação a essa realidade do Rio de Janeiro. É a coisa de não dar mais pra mascarar as hipocrisias.

 

E por fim, ao final há entrevistas gravadas de “mulheres comuns” falando dos temas da novela. Lamentável! Pareceu aquele triste final de Domésticas. Fica um clima de “lição de moral” e de que “a vida imita a arte” da forma mais banal, didática e simplista possível.

 

Mas pra que que eu to perdendo o meu tempo falando disso mesmo?

Comentários

CFagundes disse…
Porra, comentando novela? Agora vai ter que continuar assistindo pra não injustiçar a obra...
Tu tá precisando tomar umas porradas.
abraço.

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