Gerry

Gerry

de Gus Van Sant

DVD sab 25 17hs

*** ½

 

Em Gerry, Gus Van Sant realiza um projeto corajoso, uma espécie de “superar suas próprias barreiras”. Após três projetos dentro do mainstream do cinema americano (Gênio Indomável, Psicose e Encontrando Forrest), Van Sant resolve retornar ao cinema independente e de experimentação de linguagem. Se a origem de Van Sant já se aproximava com um “cinema independente americano” dos anos oitenta (em especial em Drugstore Cowboy), ele aprofunda esse retorno à origem: Gerry e os posteriores Elefante e Last Days são, acima de tudo, uma reavaliação de rumos, uma mudança de caminhos, na mesma medida que reavaliam a possibilidade de vanguarda dentro de um cinema americano cada vez mais massificado em que a produção independente nada mais é que uma maneira de as majors “diversificarem risco”, fazendo o mesmo cinema de sempre.

Dito isto, o renovado Gerry trata das questões do “top de linha” do cinema contemporâneo, desfazendo seu estilhaço de narrativa por meio da tentativa de construção de um conceito renovado (não necessariamente novo, mas “com um frescor”) de tempo e espaço. Dois jovens (Matt Damon e Casey Affleck) se perdem num vale, entre o deserto e as montanhas. E tentam se achar. E o filme é isso. Em longos planos-seqüência, numa belíssima fotografia em cinemascope, Van Sant reflete sobre a fragilidade da existência humana, sobre sua essência que beira à finitude, através de um cinema físico. Esse tempo e esse espaço absorvem os “estrangeiros”, completamente indefesos. O Homem se esvaindo ante à força da Natureza, ou ante sua própria miséria. A caminhada dos dois companheiros parece não ter fim. Alguns estranhos movimentos de câmera compõe esse cenário assolador. Van Sant teve uma solução prodigiosa: mesmo com uma fotografia de grande plasticidade, o filme consegue passar todo o sentido de deslocamento e de tristeza desse lugar-nenhum.

Gerry é um filme sobre um caminho. De carro, no longo início do filme. Depois, a pé, pelas planícies, pelos topos das montanhas, pela areia de um deserto, pelas pedrinhas que cobrem o solo. O percurso, e só. Não há passado, não há futuro, não há psicologia: há o cinema físico desse percurso, e há a Natureza, que, embora muito presente, não lhes responde com um único sinal, permanecendo impassível. Esse caminho talvez seja em busca de si mesmo, um caminho que se confunde com o próprio cinema de Van Sant. O fraco final, falsamente redentor, não consegue tirar a beleza estranha de Gerry: quase como uma espécie de Japón produzido por uma major com base no star system (Matt Damon), Van Sant faz um filme corajoso, que coloca uma série de perspectivas dentro do contexto do cinema contemporâneo, e que, de forma muito bonita, é quase que dedicado a Bela Tarr, um cineasta húngaro.

 

Comentários

CFagundes disse…
Finalmente Gerry, hein?
Sabia que vc ia gostar.

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