Passagem Azul
de Yee Chih-Yen
CCBB sex 3 18hs ***
Acabando de ver o chato Bully, fui ver esse filme despretensioso taiwanês sobre um grupo de adolescentes estudantes, quase todo passado numa escola. E foi uma grande surpresa, porque o filme é uma pequena pérola. Nada como o cinema oriental!: ao contrário do tom histérico do filme de Clark, um olhar maduro, honesto, sensível sobre essa incompreendida fase da vida.
Passagem Azul é um filme muito pequeno, um filme muito simples sobre três adolescentes: um menino e duas meninas num colégio de Taiwan. É de uma menina A que gosta de um menino, mas este menino gosta de uma menina B, e esta menina B, por sua vez, gosta justamente..... da menina A ! A artimanha de roteiro do filme é quando descobrimos o motivo pelo qual a menina B não retribui o sentimento do menino: isto porque como a menina A é muito tímida, pede à sua amiga, a menina B, para que interceda por ela junto ao menino B. Por isso, pensamos que a menina B não quer ficar com o menino por uma questão ética, pela amizade à menina A. Mas depois o filme revela a questão do homossexualismo.
Por isso, o filme é geralmente mal interpretado, como uma adaptação delicada do problema do homossexualismo feminino e na adolescência e ainda mais num filme oriental. Apesar de tbem ser isso, o principal mérito do filme não é nem esse.
É o fato de o filme ser um filme de cinema e não de roteiro. Seu roteiro é simples, às vezes até banal. Mas a forma como o diretor Yee Chih-Yen filma essa historiazinha é muito impressionante. Apesar de ser apenas seu segundo filme, a segurança e a maturidade com que o diretor trabalha de forma criativa os elementos da narrativa clássica são exemplares. Torna-se tbem um filme absolutamente oriental: na dificuldade de expressar os sentimentos, na questão do contato com o corpo, na difícil exploração da sexualidade, na forma sutil com que o filme trabalha o tempo e o espaço. Surgem seqüências memoráveis: uma briga entre o menino e a menina B num auditório cheio de cadeiras vazias, em que um empura-empurra se repete sequencialmente (chega até a lembrar a famosa sqc de Prazeres Desconhecidos...), uma maravilhosa pan para o horizonte quando a menina A joga fora suas lembranças do menino, a sqc em que a menina B pergunta à sua mãe como fazemos para esquecer uma decepção profunda (que me lembrou Não Amarás, claro...), etc, etc.
Ao final, fica um filme triste, doloroso de se ver, ainda mais para um oriental. As relações todas não se completam, fica a solidão (o menino nadando nas águas da piscina vazia, escondido.... ou a menina B escrevendo escondido nas paredes da escola...). A gosta de B que gosta de C que gosta de A. O que poderia ser um triângulo amoroso se desfaz; o que poderia ser um filme sobre a ética da amizade se desfaz: no final não há nada, a não ser o terrível desafio de prosseguir, de tentar ir para a Universidade e ser alguém. Num final com uma voz off madura e dolorosa (não chega a ser tão sinistra quanto no meu Natal...), Yee Chih-Yen termina o filme com uma elegância e uma maturidade que coroa sua pequena fábula contemporânea, uma pequena jóia, e uma verdadeira aula de cinema. Um filme simples, humano e filmado com uma sabedoria econômica tipicamente oriental.
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