Aqui Termina o Inferno
De Masaki Kobayashi
Odeon dom 5 18hs
** ½
Bom, percebi só agora que não escrevei nada sobre o filme do Kobayashi, que passou no Odeon. Uma oportunidade quase única para ver o cinema japonês dos anos 60 e 70. Aqui Termina o Inferno, num cinemascope em PB de grande plasticidade, quase que retoma a tradição do cinema de samurais japonês. O filme se passa no fim de uma era feudal, em que o comércio é proibido. Os “samurais” agora são uma espécie de contrabandistas, que não atraem a suspeita da polícia exatamente por se esconderem sob a fachada de uma antiga classe aristocrata, agora claramente decadente. Eles vivem nesse lugar-nenhum, numa espécie de semi-ilha isolada da cidade mas ao mesmo tempo em contato com ela, um entremeio. Por isso serve como um refúgio silencioso a quem quer se isolar do mundo, por qualquer motivo que seja. O filme, tipicamente japonês, desenvolve as motivações dos personagens e o “código de ética” que envolve essas relações, mas o destino, cruel, traiçoeiro, desde o início parece que vai esperar a primeira oportunidade para apunhalar esses personagens. É o que acontece no final, quando esses “jovens amaldiçoados” tentam ajudar um pobre homem, que perdeu o pouco que tinha por causa de um amor puro (sua amante por quem ele trabalhava a vida toda para libertá-la de seu chefe, foi vendida por este para um bordel). A luta pela redenção desse amor puro talvez seja a última esperança de redenção deles mesmos, esses marginais, forasteiros, perdidos, e por isso lutam por esse homem. O final mostra a síntese dos conflitos: uma armadilha, o destino, o lugar-nenhum. Kobayashi numa estética simples se torna testemunha da impossibilidade de redenção, da difícil tarefa de lutar por uma esperança perdida, mas como, ainda assim, precisa-se lutar até o final por um centelho de esperança, por um mundo melhor, mais puro, menos ardiloso. É nessa ingênua mas sincera tentativa de “purificação” que o calmo cinema de Kobayashi navega suave até a batalha final, filmada com grande energia e ímpeto. A prisão do protagonista é exemplar, e o grande clímax do filme. O filme poderia ser um pouco menor e às vezes se perde um pouco, mas o grand finale de Kobayashi, a maestria técnica e seu cinema ético nos tira o fôlego, e ao final fica a impressão de um belo apesar de imperfeito filme.
Comentários
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Participe.
Bons Filmes e bons blogues.
lmarchao