Ponto Final – Match Point
Ponto Final – Match Point
De Woody Allen
São Luiz 2 qui 23 19:10
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(algumas linhas rascunhadas rapidamente sobre o filme antes da folia momesca)
Ponto Final é um filme típico e atípico de Woody Allen. Típico porque é uma comédia, porque tem a assinatura do diretor. Típico porque eu já vi Crimes e Pecados. Atípico porque foge à caricatura de si mesmo que o cinema de Allen tantas vezes gosta de fazer e é muitas vezes mal interpretado por causa disso. Atípico porque não é uma comédia (strictu sensu).
Match Point é para o cinema de Allen o que A Inglesa e o Duque é para o cinema de Rohmer. Aliás, ver Match Point só me lembrou o quanto (por incrível que pareça) esses dois cineastas se parecem: Allen e Rohmer. Me lembrou também de Agente Triplo, do próprio Rohmer.
Me lembrou porque Allen faz um filme farsesco. Me lembrou pelo estilo elegante, super refinado, simples, funcional e com um humor sutílimo. Me lembrou porque a mise-en-scene do filme é maravilhosa: é simples mas absolutamente cinematográfica. Allen usou um estilo descritivo que é o único que poderia ser usado com esse material a mãos. Um estilo meio teatro meio literatura: na superfície, parece um filme de roteiro e de diálogos, mas no fundo a suposta opacidade da narrativa clássica é vista de forma aguda para problematizar a racionalidade dos personagens em cena.
Mas o que difere Allen de Rohmer é justamente o conflito entre razão e sensibilidade: se nos filmes de Rohmer, os personagens pensam demais e deixam o tempo ótimo para a ação se esvair e tudo permanece no mesmo, no filme de Allen as emoções escondem um objetivo premeditado, ardiloso e calculado. Mas da mesma forma que em Rohmer está em jogo o caráter premeditado das ações amorosas, o quanto tudo é fruto das aparências, da expressão verbal e de um jogo.
Com isso, Allen faz uma crítica contundente à futilidade do mundo burguês de hoje. E não só do mundo burguês mas dessa necessidade absurda de subir na vida a qualquer custo, da “ilusão do poder”, desse mundo de aparências e máscaras que é a sociedade de hoje. E sobre a violência, como forma de resolver tudo.
O filme de Allen é complexo, especialmente na mise-en-scene, aparentemente simples, mas como em Rohmer, de uma funcionalidade incrível. A ironia da “sorte” como metalinguagem: o papel do próprio cinema. A ironia com o reverso de Crime e Castigo. A gravidez e o filho ao final. O final como referência amarga e estranha de Morangos Silvestres. Um filme farsesco. Um filme que quebra vários preconceitos em torno do autor Woody Allen. Um filme da maturidade. Belo filme.
Comentários
De qualquer forma, é um ótimo filme.