MFL: A Pátria

A Pátria, de Jorge Mourão
Já raiou a liberdade...
Se não fosse pelo título, nada nos faria associar este filme de Jorge Mourão a uma idéia de nacionalismo ou a algum contexto “maior” que o próprio filme. Daí surge sua essência provocativa. Mas pela força do título, tudo passa a ser repensado, assumindo uma outra conotação: um carro de polícia ao longe, a música operística ao fundo (inserindo toda uma carga dramática que se contrapõe à irreverência das imagens), o suposto conteúdo das revistas que servem apenas para limpar os órgãos genitais do realizador, o creme de barbear espalhado pelo corpo nu, as sombrias escadarias onde se vê escrito a palavra “medo” em seus degraus, o vômito desenfreado numa privada suja, a penumbra do claustrofóbico loft. Mas aqui não há discurso, não há um “filme político”: há no máximo o sentimento de que “a pátria” para Mourão é o símbolo das instituições, o aparelho repressor que impede a liberdade do indivíduo e reprime a diferença. Se a partir da sujeira, da escuridão e da desorganização se faz referência à opressão de um regime militar, por outro lado, por meio desses elementos, o diretor cria uma nova forma de cinema, livre de todas as imposições do cinema convencional. Esse é o paradoxo de Mourão: mesmo sujo e zoneado, a generosidade de Mourão em relação a esse loft é tanta que torna o filme acolhedor, apesar de desconcertante. É o cinema que no momento parece possível.

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