MFL: O Estrangeiro
O ESTRANGEIRO, de Gabriel Sanna
A ausência de si mesmo
O que é ser um estrangeiro? Como é sentir-se um estrangeiro, em exílio voluntário, num não-estar lá nem aqui? O escritor Edmond Jabès, de origem judaica, foi um dos grandes pensadores contemporâneos sobre o tema, e dizia que o estrangeiro não é apenas quem tem outra nacionalidade ou quem vem de outro país, mas simplesmente alguém à procura de um desconhecido e que, de fato, é de lugar nenhum. O estrangeiro, na verdade, passa a ser o eu a procura de um si mesmo desconhecido e, por isso, revela-se um ausente de si mesmo. O curta de Gabriel Sanna retoma, de forma indireta, os temas de Jabès, para compor uma reflexão sobre a perenidade da memória, através de estilhaços de imagens e sons que recuperam de forma necessariamente incompleta e parcial o delírio de viver, o desafio de existir. Ao contrário da ilusão romântica do contato com o outro, há apenas o espaço físico, a incompletude da vida, o esvaziamento da memória, a fragmentação da contemporaneidade, do indivíduo. Esses temas são espelhados por uma estética estroboscópica, em que a memória fragmentada se confunde com o próprio princípio da persistência retiniana, essência do cinema. Com isso, sua estética relembra o cinema das origens, e se filia a uma tradição estética vanguardista da intimidade que lembra os filmes de Jonas Mekas. Ao final, fica a sensação que Gabriel Sanna concorda com Jabès, que afirmava que o autor (o escritor, o cineasta) é no fundo “o estrangeiro dos estrangeiros”.
A ausência de si mesmo
O que é ser um estrangeiro? Como é sentir-se um estrangeiro, em exílio voluntário, num não-estar lá nem aqui? O escritor Edmond Jabès, de origem judaica, foi um dos grandes pensadores contemporâneos sobre o tema, e dizia que o estrangeiro não é apenas quem tem outra nacionalidade ou quem vem de outro país, mas simplesmente alguém à procura de um desconhecido e que, de fato, é de lugar nenhum. O estrangeiro, na verdade, passa a ser o eu a procura de um si mesmo desconhecido e, por isso, revela-se um ausente de si mesmo. O curta de Gabriel Sanna retoma, de forma indireta, os temas de Jabès, para compor uma reflexão sobre a perenidade da memória, através de estilhaços de imagens e sons que recuperam de forma necessariamente incompleta e parcial o delírio de viver, o desafio de existir. Ao contrário da ilusão romântica do contato com o outro, há apenas o espaço físico, a incompletude da vida, o esvaziamento da memória, a fragmentação da contemporaneidade, do indivíduo. Esses temas são espelhados por uma estética estroboscópica, em que a memória fragmentada se confunde com o próprio princípio da persistência retiniana, essência do cinema. Com isso, sua estética relembra o cinema das origens, e se filia a uma tradição estética vanguardista da intimidade que lembra os filmes de Jonas Mekas. Ao final, fica a sensação que Gabriel Sanna concorda com Jabès, que afirmava que o autor (o escritor, o cineasta) é no fundo “o estrangeiro dos estrangeiros”.
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