MFL: Labirintinho II

LABIRINTINHO – PARTE II, de Rafael Scaggion
Eu preciso ter fé
Um curta de quatro minutos pode ser algumas coisas (não muitas), se suas idéias forem apresentadas com precisão e com grande poder de síntese: um filme-piada, um ensaio formalista, uma versão de um videoclipe. Mas para Rafael Scaggion, diretor de Labirintinho, trata-se de “tudo ou nada”: quatro minutos são suficientes para um ato de confissão, um tratado metafísico, um mergulho doloroso e ambíguo de consciência. Labirintinho é, antes de tudo, um filme religioso. Não que seja apologético, muito ao contrário, mas verdadeiramente religioso, contra a religião dos fariseus, em favor de uma religiosidade pura, talvez mais próxima à filosofia. Mesclando com grande inventividade imagem, texto e som, Scaggion resgatou a grande tradição do cinema das origens: ser um teatro de luzes e sombras, com influências indiretas do expressionismo alemão, tanto na mise-en-scene (as sombras, a falta de diálogos, a encenação frontal, quase como um tableaux suspenso) quanto na essência (o fatalismo, a tendência ao melodrama, o absurdo da condição humana). Em seus questionamentos contra a resignação, em busca de um sentido das coisas, surge o tema da liberdade, que estilhaça este breve mas desconcertante video, de uma morbidez quase infantil, pois só as crianças ainda têm coragem de perenemente questionar o sentido das coisas. Com o questionamento, surgem a dor e a doença, a miséria da condição humana e os limites do mundo.

Comentários

Postagens mais visitadas