Liberdade não é só seda
Às vésperas do início de mais uma Mostra do Filme Livre (a abertura é na segunda), coloco aqui o texto que escrevi para o catálogo do evento. Um texto duro, mas necessário. Basicamente se centra em duas coisas: i) a impossibilidade do filme totalmente livre; ii) a necessidade de a Mostra se afirmar como proposta séria e não se iludir com o "sair bem na foto" típico de quase todos os festivais do Brasil.
A PRÉ-ADOLESCÊNCIA DO FILME LIVRE (OU LIBERDADE NÃO É SÓ SEDA)
No meio de mais uma nova rodada de discussões sobre a renovação das leis de incentivo, a participação da Globo Filmes e a nova edição do Prêmio Adicional de Renda, surge mais uma edição da Mostra do Filme Livre, mostrando que o cinema alternativo brasileiro agoniza, mas não morre. Em sua quinta edição, a Mostra cada vez mais quer exibir a sua cara, consolidar o seu perfil próprio entre as tantas outras mostras que se espalham pelo Brasil e pelo mundo, quer dizer sem rodeios e em alto e bom tom que “o rei está nu”, quer viver durante quinze dias “a dor e a delícia” que é fazer, pensar, sentir cinema no Brasil. A Mostra do Filme Livre (criança precoce) precisa passar da adolescência: para se afirmar, precisa dizer claramente o que quer: se quer ser a “mostra dos novos esquemas”, a “mostra que curte o cinema (careta dos amigos)”, se quer passar filmes “em atacado”, ou se realmente quer valorizar os filmes que tenham uma proposta intrínseca de liberdade.
Cada vez mais buscamos por uma definição do que seja “um filme livre” (aceitamos sugestões...). E cada vez mais chegamos à conclusão de que é um conceito em construção. Isto porque a busca desse conceito vale muito mais do que seu achado. Até porque o “filme livre puro” é uma utopia. Provavelmente, não existe um filme 100% livre. Mas isto não nos impede de buscar a liberdade no cinema, ainda que saibamos o quanto ela é impossível, mesmo com a certeza de ser uma ilusão romântica, devaneio narcisista diante de um mundo dominado pela publicidade, pelo videoclipe, pelo cinema hollywoodiano e pela televisão – as quatro grandes chagas da produção audiovisual deste novo (velho?) século. Num mundo regido pelas regras de negócio dos grandes conglomerados da indústria de entretenimento, a Mostra do Filme Livre ainda acredita no sonho (tolo sonho) de que um filme só é possível se parte do desejo de um indivíduo. Independentemente, do rótulo (autor? diretor? artista? realizador?), é um indivíduo (não uma empresa) quem sonha. E como todo sonho, foge à nossa definição.
Daí que o filme livre é aquele que escapa das definições, dos rótulos, dos conceitos. É simplesmente um filme em busca de ser, um processo mais que o resultado final. Pois se aprisionarmos o filme livre em torno de um conceito (“este filme é mais ou menos livre do que outro”) já estaremos, por definição, tirando a liberdade de ser do filme. O filme livre é aquele que sofre diversas metamorfoses, cuja essência é fugidia: quando pensamos ter captado sua essência, ela já é outra. Por isso, o verdadeiro filme livre é etéreo: escapa aos nossos conceitos e nossas definições. Dura e contraditória é então a tarefa da curadoria de escolher os filmes que fazem parte da mostra, já que nosso tempo de grade de programação é finito, assim como a paciência e o saco de nossos espectadores (e dos nossos patrocinadores, claro). Quem concordar, chega mais, que sempre tem espaço pra mais um. Quem não concordar, que atire a primeira pedra! Ou que ganhe convites para as inúmeras outras mostras de cinema no Brasil, a gosto do freguês!...
A PRÉ-ADOLESCÊNCIA DO FILME LIVRE (OU LIBERDADE NÃO É SÓ SEDA)
No meio de mais uma nova rodada de discussões sobre a renovação das leis de incentivo, a participação da Globo Filmes e a nova edição do Prêmio Adicional de Renda, surge mais uma edição da Mostra do Filme Livre, mostrando que o cinema alternativo brasileiro agoniza, mas não morre. Em sua quinta edição, a Mostra cada vez mais quer exibir a sua cara, consolidar o seu perfil próprio entre as tantas outras mostras que se espalham pelo Brasil e pelo mundo, quer dizer sem rodeios e em alto e bom tom que “o rei está nu”, quer viver durante quinze dias “a dor e a delícia” que é fazer, pensar, sentir cinema no Brasil. A Mostra do Filme Livre (criança precoce) precisa passar da adolescência: para se afirmar, precisa dizer claramente o que quer: se quer ser a “mostra dos novos esquemas”, a “mostra que curte o cinema (careta dos amigos)”, se quer passar filmes “em atacado”, ou se realmente quer valorizar os filmes que tenham uma proposta intrínseca de liberdade.
Cada vez mais buscamos por uma definição do que seja “um filme livre” (aceitamos sugestões...). E cada vez mais chegamos à conclusão de que é um conceito em construção. Isto porque a busca desse conceito vale muito mais do que seu achado. Até porque o “filme livre puro” é uma utopia. Provavelmente, não existe um filme 100% livre. Mas isto não nos impede de buscar a liberdade no cinema, ainda que saibamos o quanto ela é impossível, mesmo com a certeza de ser uma ilusão romântica, devaneio narcisista diante de um mundo dominado pela publicidade, pelo videoclipe, pelo cinema hollywoodiano e pela televisão – as quatro grandes chagas da produção audiovisual deste novo (velho?) século. Num mundo regido pelas regras de negócio dos grandes conglomerados da indústria de entretenimento, a Mostra do Filme Livre ainda acredita no sonho (tolo sonho) de que um filme só é possível se parte do desejo de um indivíduo. Independentemente, do rótulo (autor? diretor? artista? realizador?), é um indivíduo (não uma empresa) quem sonha. E como todo sonho, foge à nossa definição.
Daí que o filme livre é aquele que escapa das definições, dos rótulos, dos conceitos. É simplesmente um filme em busca de ser, um processo mais que o resultado final. Pois se aprisionarmos o filme livre em torno de um conceito (“este filme é mais ou menos livre do que outro”) já estaremos, por definição, tirando a liberdade de ser do filme. O filme livre é aquele que sofre diversas metamorfoses, cuja essência é fugidia: quando pensamos ter captado sua essência, ela já é outra. Por isso, o verdadeiro filme livre é etéreo: escapa aos nossos conceitos e nossas definições. Dura e contraditória é então a tarefa da curadoria de escolher os filmes que fazem parte da mostra, já que nosso tempo de grade de programação é finito, assim como a paciência e o saco de nossos espectadores (e dos nossos patrocinadores, claro). Quem concordar, chega mais, que sempre tem espaço pra mais um. Quem não concordar, que atire a primeira pedra! Ou que ganhe convites para as inúmeras outras mostras de cinema no Brasil, a gosto do freguês!...
Comentários
brincadeira.
Tá legal, simples, não tem nada de duro.
Me vê um tchíquete pra abertura da mostra, seu moço!
há a liberdade de fazer todo e qualquer tipo de filme, inclusive um filme preso à estética da narrativa, etc.
então, todo tipo de filme é filme livre; mas nem todo filme livre é algum "tipo" de filme.
ih, sei lá. vc falou melhor q eu. rs
=)
(mas vocês estão num papel que precisa de cautela, ao ter q selecionar o q seria um filme livre e o q não seria. pode contradizer o próprio conceito. boa sorte então) ;)
abraços de Sobral
ainda bem que voce tb achou 2046 irritante.
só po rcuriosidade, que nota você dá para "Amor a Flor da Pele"?
tô bastante curioso para ver o último do Beto Brant
ae!
GUI: apareça lá, sem furar! Mas aposto que não terá nem aplausos nem vaias. Apenas o silêncio. O que já é o bastante. MAF: veja os filmes, e se possivel, depois me passe um email, mesmo que vc nao tenha gostado nada dos filmes, please. ufa...