Fulaninha
De David Neves
CCBB sex 20 17hs
* ½

Este filme de David Neves busca ser uma amena crônica de costumes sobre o Rio de Janeiro, ou mais especificamente sobre Copacabana. O roteiro, ágil, ajuda: concentra-se num cineasta (Antônio Marzo), que é uma espécie de alter-ego do diretor. Amigo de todos, ele mantém um certo tipo de distância, um certo romantismo, uma certa pureza, em contraste com seus amigos que no fundo querem se dar bem (o cineasta pornô, o advogado que agora vai ter que trabalhar, o corretor que vive do dinheiro da mulher). O cineasta busca uma beleza perdida, uma lolita apelidada de “fulaninha”. Quer fazer um filme sobre ela, quer amá-la. Aos olhos de Marzo, ela é de uma beleza pueril; aos olhos do espectador, no entanto, ela é bem ativa: transa livremente com o namorado, não se importando que ele seja filho do porteiro, resolve problemas para a mãe, etc. Sabe o que quer. Marzo também: quer fazer um filme sobre ela. Quer ela. Acaba conseguindo a mãe. Ou seja, vê a realidade, não se deslumbra com o sonho. Entre a mãe e a filha, a mãe, claro. Esse é o cinema de David Neves: romântico, mas preso à realidade do cinema brasileiro, o “cinema possível” no final dos anos oitenta, acabando a Embra, acabando o sonho de uma geração, acabando o sonho de um cinema brasileiro forte. O cinema possível de Neves é também ligeiramente apelativo, mas, como dissemos, é o que era possível para a época. É o cara que para se dar bem, faz filme pornô. Mas ainda é possível ter uma esperança, e o personagem de Marzo está lá. Nisso, o roteiro encanta, e é legal ver as cenas na Prado Júnior, uma Copacabana filmada com um jeito de bairro em que as pessoas se conhecem, como se fosse na Zona Norte. Mas a mise-en-scene é muito esculhambadazinha, um tanto desleixada, as piadas um tanto passadas como se fossem de um curta da UFF. Filma-se para os atores, o que não á mal, mas acaba sendo um filme muito mais de roteiro do que de cinema. É o cinema possível, o que não indica que necessariamente seja bom. Por isso, dá uma certa tristeza. Destaque para a cena em que Emanuel Bonfim desabafa sobre a situação de todos. Enfim, de qualquer forma, um filme que merece ser visto.

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