FESTIVAL DO RIO 2005 !!!
Hoje começa o Festival do Rio 2005. Esse festival que ... CENSURADO Mas temos que aproveitar o que nos pode ser útil: os filmes. Esse texto, que escrevi em 2002, sinaliza muito do que acho hoje do que seja o Festival do Rio, sempre acho bom começar por esse texto, embora – graças a Deus – hoje estou muito menos paranóico que há três anos. Gosto muito do último parágrafo do texto, talvez tenha postado o texto só por ele.
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Festival do Rio
Quando afinal são divulgadas a relação de horários e a lista dos filmes a serem exibidos no Festival do Rio, a reação é um misto de encanto e desespero. Sim, porque ao mesmo tempo em que surge a oportunidade de conhecer um conjunto de filmes que prosseguirá conosco, surge também o dever paranóico de encaixar todos os horários dos filmes, além das nossas tantas outras tarefas mundanas. É aquele filme tailandês imperdível que só irá passar durante a semana ao meio-dia, são todos os outros eventos culturais que deixam de ser vistos, é aquela consulta que você esperava há dois meses e que agora vai ter que cancelar. À medida em que folheamos a programação, um arrepio de alma se prolonga. Às vezes, chegamos até a torcer para que aquele filme imperdível NÃO seja exibido, para que tenhamos algum tempo livre nessas duas semanas de festival. Mas, para nossa sorte, ele passa. Para nossa sorte e nossa angústia.
Só algum tempo acompanhando o Festival é que adquirimos alguma idéia de buscar um equilíbrio entre marcar ou não marcar. Isto é, de definir quais filmes serão vistos e quais deixarão de ser. Será que aquele filme da Quirguízia vale a pena? E aquele outro, daquele diretor estreante da Mauritânia? “Ah, mas o filme de fulano deve entrar no circuito após o festival, então vou poder vê-lo com mais calma...” “Ih, mas será que vai mesmo? Olha, ele está com legenda eletrônica...”
Mas por que toda essa necessidade obsessiva, essa busca desesperada por ver o maior número possível de filmes, ter o maior número de informações antecipadas sobre o Festival? Durante o Festival, é melhor não pensar muito nisso, para que não caiamos numa angústia profunda. Numa espécie de inércia, saímos de um cinema e entramos em outro; vemos um filme repleto de planos-seqüência sobre a angústia existencial de um homem solitário, e logo após um outro com um coquetel de drogas e rock-and-roll, com aquela câmera frenética. Cambaleando, comemos um pacote de pão de queijo nos quinze minutos entre uma sessão e outra, e encaramos o terceiro filme da noite, após um dia inteiro de trabalho. Já de madrugada, voltamos para casa para sentar ao computador e escrever as críticas dos filmes vistos no dia. Só então pensamos em comer alguma coisa, tomar um banho, e dormir, ainda pensando na programação do dia seguinte.
A cada final de festival, seguem as promessas que “no ano que vem será diferente, que serão só uns quinze filmes no máximo”, mesmo sabendo que tudo é em vão. E qual é a recompensa de todo esse sacrifício, de fazer sua vida parar por duas semanas para assistir a um conjunto desordenado de filmes? Todo esse esforço vale a pena? Não sei. Talvez sim. Porque dos trinta, quarenta filmes que se vê nessas duas semanas, três ou quatro ficam conosco pra sempre. E durante todo o ano a gente pensa como seria incompleta a nossa vida se não tivéssemos visto aquele filme... e tentamos nos esquecer de quão incompleta ela o é por ter deixado de descobrir tantos outros.
O Festival é em muitas medidas um painel de nossa impotência: física, mental e intelectual.
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Festival do Rio
Quando afinal são divulgadas a relação de horários e a lista dos filmes a serem exibidos no Festival do Rio, a reação é um misto de encanto e desespero. Sim, porque ao mesmo tempo em que surge a oportunidade de conhecer um conjunto de filmes que prosseguirá conosco, surge também o dever paranóico de encaixar todos os horários dos filmes, além das nossas tantas outras tarefas mundanas. É aquele filme tailandês imperdível que só irá passar durante a semana ao meio-dia, são todos os outros eventos culturais que deixam de ser vistos, é aquela consulta que você esperava há dois meses e que agora vai ter que cancelar. À medida em que folheamos a programação, um arrepio de alma se prolonga. Às vezes, chegamos até a torcer para que aquele filme imperdível NÃO seja exibido, para que tenhamos algum tempo livre nessas duas semanas de festival. Mas, para nossa sorte, ele passa. Para nossa sorte e nossa angústia.
Só algum tempo acompanhando o Festival é que adquirimos alguma idéia de buscar um equilíbrio entre marcar ou não marcar. Isto é, de definir quais filmes serão vistos e quais deixarão de ser. Será que aquele filme da Quirguízia vale a pena? E aquele outro, daquele diretor estreante da Mauritânia? “Ah, mas o filme de fulano deve entrar no circuito após o festival, então vou poder vê-lo com mais calma...” “Ih, mas será que vai mesmo? Olha, ele está com legenda eletrônica...”
Mas por que toda essa necessidade obsessiva, essa busca desesperada por ver o maior número possível de filmes, ter o maior número de informações antecipadas sobre o Festival? Durante o Festival, é melhor não pensar muito nisso, para que não caiamos numa angústia profunda. Numa espécie de inércia, saímos de um cinema e entramos em outro; vemos um filme repleto de planos-seqüência sobre a angústia existencial de um homem solitário, e logo após um outro com um coquetel de drogas e rock-and-roll, com aquela câmera frenética. Cambaleando, comemos um pacote de pão de queijo nos quinze minutos entre uma sessão e outra, e encaramos o terceiro filme da noite, após um dia inteiro de trabalho. Já de madrugada, voltamos para casa para sentar ao computador e escrever as críticas dos filmes vistos no dia. Só então pensamos em comer alguma coisa, tomar um banho, e dormir, ainda pensando na programação do dia seguinte.
A cada final de festival, seguem as promessas que “no ano que vem será diferente, que serão só uns quinze filmes no máximo”, mesmo sabendo que tudo é em vão. E qual é a recompensa de todo esse sacrifício, de fazer sua vida parar por duas semanas para assistir a um conjunto desordenado de filmes? Todo esse esforço vale a pena? Não sei. Talvez sim. Porque dos trinta, quarenta filmes que se vê nessas duas semanas, três ou quatro ficam conosco pra sempre. E durante todo o ano a gente pensa como seria incompleta a nossa vida se não tivéssemos visto aquele filme... e tentamos nos esquecer de quão incompleta ela o é por ter deixado de descobrir tantos outros.
O Festival é em muitas medidas um painel de nossa impotência: física, mental e intelectual.
Comentários
Caramba, Ik, estou para escrever a parte II do q achei dos outros filmes... e minha mente está bloqueada, não consigo transformar pensamentos em palavras... e isso me dá uma sensação de incapacidade. Vou tentar novamente, veremos como sairá.
Abraços