COISA DE MULHER
Coisa de Mulher
De Eliana Fonseca
Cinemark Botafogo 4, qui 8 setembro 19:50
*
Apesar de Coisa de Mulher estar longe de ser um bom filme, vê-lo traz muitos insights interessantes para se pensar o cinema brasileiro hoje. Coisa de Mulher, primeira produção da SBT Filmes, se encaixa na quimera do cinema industrial tentada por Diler Trindade. Ciente de que não poderá viver dos filmes da Xuxa para sempre e de que “o poço está secando”, Diler, o industrial, vem tentando diversificar a sua produção. Claro, porque o cinema brasileiro hoje se ganha na produção, e não na bilheteria, e as majors, por sua vez, lançam o filme como se fosse banana na feira, conseguindo com a parceria com o Diler, participações de quase 40% nos direitos patrimoniais do filme. Então, Coisa de Mulher é feito só com os R$ 3 milhões do Art. 3º da Lei do Audiovisual, mas poderia custar muito menos, já que é um filme muito simples. Então que a Lei do Audiovisual é isso: acaba sendo uma válvula de escape para que as produtoras vivam da produção do filme, e não das receitas dele.
Coisa de Mulher é uma pornochanchada dos anos 70, só que custando 5 vezes mais, mesmo com toda a simplicidade da produção filmada em HD. Só que é uma pornochanchada feita para mulheres, o que torna o produto bastante atípico. A melhor sacada é o próprio papel do Evandro Mesquita (ótimo) como símbolo do personagem masculino: aquele que precisa compreender a alma feminina. Pega, então, suas confidências, para fazer sucesso como jornalista, na coluna de Cassandra. Com isso, os homens (do público) se identificam com as travessuras de Evandro Mesquita, e passam a compreender mais o universo feminino, representado através das diferentes personalidades das meninas do Grelo Falante. A partir disso, o besteirol se desenvolve, com piadas em geral de mau gosto e trocadilhos infames, em soluções verbais e de roteiro bastante simples e comuns. Em termos de cinema, as soluções da diretora Eliana Fonseca, já partindo para o seu terceiro ou quarto longa, são sempre as mais banais, as mais óbvias: é o corte do plano geral para o médio seguido do close, é o plano de conjunto, é o corte em continuidade. O único mérito da direção é o equilíbrio entre os atores, todos ótimos (até a Adriane Galisteu não compromete). Eliana Fonseca faz metalinguagem numa parte do roteiro em que ‘Cassandra” é convidada a editar um livro, e dessa vez Evandro Mesquita quer publicar um livro sério. A diretora Eliana Fonseca, como atriz, lhe diz “mas as pessoas não querem ver o seu trabalho sério, querem ver o livro da Cassandra”. Então que a talentosa curta-metragista de outrora se rende ao cinema do pior tipo, inclusive pior do que a televisão, em se tratando de decupagem e de cinema. Há uma hora em que isso é clássico: a “virgem” olha o apartamento do Evandro Mesquita pelo buraco da fechadura. Todas as vezes em que isso ocorre (pelo menos umas cinco) a cena é filmada da mesma forma, em um plano médio absolutamente banal. Não há um zoom, um corte para o olho, uma brincadeira com a questão do olhar, ou mesmo uma variação. Nenhuma criatividade é possível na direção burocrática, sonolenta e tediosa de Eliana Fonseca, o que faz esse trabalho ter um engessamento, uma caretice de linguagem que soterra o filme.
Outras questões nos surgem, a primeira é: qual é o público desse filme? Outra: qual é o perfil de produção da SBT Filmes? Outra: como se compara Coisa de Mulher com Sexo, Amor e Traição e Os Normais? Sem dúvida, a balança pesa a favor de Coisa de Mulher: o roteiro é mais desenvolvido, e o diálogo com a pornochanchada enche de graça e carisma o filme. A cena final no banheiro dá um desfecho adequado ao filme. Ainda assim, Coisa de Mulher é indefensável. Chega a ser simpático, mas não é o cinema brasileiro que precisamos, e mesmo assim, ainda está longe de ser um sucesso com o público. E pensando bem, Coisa de Mulher acaba sendo sexista, e nada acrescenta a uma melhor visão das relações entre os sexos, além de corroborar todos os preconceitos e clichês existentes. Ou seja, dispensável, mas ainda assim importante de ser visto.
De Eliana Fonseca
Cinemark Botafogo 4, qui 8 setembro 19:50
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Apesar de Coisa de Mulher estar longe de ser um bom filme, vê-lo traz muitos insights interessantes para se pensar o cinema brasileiro hoje. Coisa de Mulher, primeira produção da SBT Filmes, se encaixa na quimera do cinema industrial tentada por Diler Trindade. Ciente de que não poderá viver dos filmes da Xuxa para sempre e de que “o poço está secando”, Diler, o industrial, vem tentando diversificar a sua produção. Claro, porque o cinema brasileiro hoje se ganha na produção, e não na bilheteria, e as majors, por sua vez, lançam o filme como se fosse banana na feira, conseguindo com a parceria com o Diler, participações de quase 40% nos direitos patrimoniais do filme. Então, Coisa de Mulher é feito só com os R$ 3 milhões do Art. 3º da Lei do Audiovisual, mas poderia custar muito menos, já que é um filme muito simples. Então que a Lei do Audiovisual é isso: acaba sendo uma válvula de escape para que as produtoras vivam da produção do filme, e não das receitas dele.
Coisa de Mulher é uma pornochanchada dos anos 70, só que custando 5 vezes mais, mesmo com toda a simplicidade da produção filmada em HD. Só que é uma pornochanchada feita para mulheres, o que torna o produto bastante atípico. A melhor sacada é o próprio papel do Evandro Mesquita (ótimo) como símbolo do personagem masculino: aquele que precisa compreender a alma feminina. Pega, então, suas confidências, para fazer sucesso como jornalista, na coluna de Cassandra. Com isso, os homens (do público) se identificam com as travessuras de Evandro Mesquita, e passam a compreender mais o universo feminino, representado através das diferentes personalidades das meninas do Grelo Falante. A partir disso, o besteirol se desenvolve, com piadas em geral de mau gosto e trocadilhos infames, em soluções verbais e de roteiro bastante simples e comuns. Em termos de cinema, as soluções da diretora Eliana Fonseca, já partindo para o seu terceiro ou quarto longa, são sempre as mais banais, as mais óbvias: é o corte do plano geral para o médio seguido do close, é o plano de conjunto, é o corte em continuidade. O único mérito da direção é o equilíbrio entre os atores, todos ótimos (até a Adriane Galisteu não compromete). Eliana Fonseca faz metalinguagem numa parte do roteiro em que ‘Cassandra” é convidada a editar um livro, e dessa vez Evandro Mesquita quer publicar um livro sério. A diretora Eliana Fonseca, como atriz, lhe diz “mas as pessoas não querem ver o seu trabalho sério, querem ver o livro da Cassandra”. Então que a talentosa curta-metragista de outrora se rende ao cinema do pior tipo, inclusive pior do que a televisão, em se tratando de decupagem e de cinema. Há uma hora em que isso é clássico: a “virgem” olha o apartamento do Evandro Mesquita pelo buraco da fechadura. Todas as vezes em que isso ocorre (pelo menos umas cinco) a cena é filmada da mesma forma, em um plano médio absolutamente banal. Não há um zoom, um corte para o olho, uma brincadeira com a questão do olhar, ou mesmo uma variação. Nenhuma criatividade é possível na direção burocrática, sonolenta e tediosa de Eliana Fonseca, o que faz esse trabalho ter um engessamento, uma caretice de linguagem que soterra o filme.
Outras questões nos surgem, a primeira é: qual é o público desse filme? Outra: qual é o perfil de produção da SBT Filmes? Outra: como se compara Coisa de Mulher com Sexo, Amor e Traição e Os Normais? Sem dúvida, a balança pesa a favor de Coisa de Mulher: o roteiro é mais desenvolvido, e o diálogo com a pornochanchada enche de graça e carisma o filme. A cena final no banheiro dá um desfecho adequado ao filme. Ainda assim, Coisa de Mulher é indefensável. Chega a ser simpático, mas não é o cinema brasileiro que precisamos, e mesmo assim, ainda está longe de ser um sucesso com o público. E pensando bem, Coisa de Mulher acaba sendo sexista, e nada acrescenta a uma melhor visão das relações entre os sexos, além de corroborar todos os preconceitos e clichês existentes. Ou seja, dispensável, mas ainda assim importante de ser visto.
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