A Virgem Desnudada Por Seus Celibatários
de Hong Sang-Soo
Teatro Dulcina, Ter, 23/11/04 19hs
**
Ir na merda daquela seção já era meio desgastante, mas a gente faz sacrifícios pelo cinema oriental. O filme do badalado Sang-Soo, mesmo na tétrica projeção do Teatro Dulcina, comprovou as qualidades do realizador, mas foi aquém do impacto de um trabalho que deixa marcas na gente.
A primeira impressão quando vemos o filme é de uma série de referências (que já começam na fotografia P&B): pensamos num cinema de Antonioni (na solidão, na dificuldade do encontro, no rigor do enquadramento), ou de Resnais (na narrativa livre, moderna), ou mesmo de Godard (a estrutura em blocos, numéricas, a divisão por cartelas, um Vivre sa vie, etc). Pensamos num cinema oriental, na economia, na dificuldade de expressar os sentimentos, na importância da repetição e da rotina, no desconforto com as questões do corpo (especialmente!) e do coração. Pensamos (abaixando o nível) num filme do Hal Hartley chamado Flirt; pensamos tbem num filme americano tosco chamado Ele disse, Ela disse. Etc. etc. etc.
Se Sang-Soo extrai momentos expressivos a partir de uma mise-en-scene extremamente rigorosa, com um tratamento inventivo do tempo (vários planos-sequência de bom trabalho dos atores), etc, acaba chegando num ponto em que o filme se repete e meio que não consegue sair do mesmo lugar. Soa repetitivo e que poderia ter uma meia hora a menos. Se bem que a repetição e a alternância são parte indiscutíveis do projeto de Sang-Soo, mas que, uma vez definida uma estética e um olhar, o filme acaba caminhando muito pouco, ficando numa espécie de meio caminho entre um conjunto de intenções. Para mim, o filme não traz nada de novo à luz dos relacionamentos entre homem e mulher que não tenha sido dito milhões de vezes. O que o filme trouxe um olhar é na questão da encenação, no rigor do quadro, num olhar para o tempo e para o trabalho com os atores (esse ponto, ainda que irregular). A questão do ponto-de-vista é tratada de forma ingênua, melhora se pensarmos num modelo de narrativa, com alguns paralelismos interessantes. A forma como o diretor trata o sexo, sempre comentada em seus filmes, não me pareceu muito criativa. O tal “humor implícito” que invade pequenos momentos do filme tbem não me apeteceu. Enfim, bom mas nada demais, aguardemos os próximos.
ps: o título original (Oh Soojung! é muito melhor; o inglês é tirado de um quadro do duchamp que inspirou o filme; o em português deve ser pérola dos pedantes do contra)
de Hong Sang-Soo
Teatro Dulcina, Ter, 23/11/04 19hs
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Ir na merda daquela seção já era meio desgastante, mas a gente faz sacrifícios pelo cinema oriental. O filme do badalado Sang-Soo, mesmo na tétrica projeção do Teatro Dulcina, comprovou as qualidades do realizador, mas foi aquém do impacto de um trabalho que deixa marcas na gente.
A primeira impressão quando vemos o filme é de uma série de referências (que já começam na fotografia P&B): pensamos num cinema de Antonioni (na solidão, na dificuldade do encontro, no rigor do enquadramento), ou de Resnais (na narrativa livre, moderna), ou mesmo de Godard (a estrutura em blocos, numéricas, a divisão por cartelas, um Vivre sa vie, etc). Pensamos num cinema oriental, na economia, na dificuldade de expressar os sentimentos, na importância da repetição e da rotina, no desconforto com as questões do corpo (especialmente!) e do coração. Pensamos (abaixando o nível) num filme do Hal Hartley chamado Flirt; pensamos tbem num filme americano tosco chamado Ele disse, Ela disse. Etc. etc. etc.
Se Sang-Soo extrai momentos expressivos a partir de uma mise-en-scene extremamente rigorosa, com um tratamento inventivo do tempo (vários planos-sequência de bom trabalho dos atores), etc, acaba chegando num ponto em que o filme se repete e meio que não consegue sair do mesmo lugar. Soa repetitivo e que poderia ter uma meia hora a menos. Se bem que a repetição e a alternância são parte indiscutíveis do projeto de Sang-Soo, mas que, uma vez definida uma estética e um olhar, o filme acaba caminhando muito pouco, ficando numa espécie de meio caminho entre um conjunto de intenções. Para mim, o filme não traz nada de novo à luz dos relacionamentos entre homem e mulher que não tenha sido dito milhões de vezes. O que o filme trouxe um olhar é na questão da encenação, no rigor do quadro, num olhar para o tempo e para o trabalho com os atores (esse ponto, ainda que irregular). A questão do ponto-de-vista é tratada de forma ingênua, melhora se pensarmos num modelo de narrativa, com alguns paralelismos interessantes. A forma como o diretor trata o sexo, sempre comentada em seus filmes, não me pareceu muito criativa. O tal “humor implícito” que invade pequenos momentos do filme tbem não me apeteceu. Enfim, bom mas nada demais, aguardemos os próximos.
ps: o título original (Oh Soojung! é muito melhor; o inglês é tirado de um quadro do duchamp que inspirou o filme; o em português deve ser pérola dos pedantes do contra)
Comentários
-----> acho que isso é fruto de uma tensão entre o enquadramento, que é muito rigoroso, e uma certa sensação de "improviso" nos longos planos-sequência e no jeito relaxado dos atores. Os limites do quadro o tempo todo oprimem os personagens: se não me engano, praticamente não há uso expressivo do espaço fora-de-tela no filme. O "rigor" é reforçado pelo sentido de estrutura, muito forte no filme, e a presença dos vários paralelismos; o "acaso", ou o jeito relaxado, é acentuado pela ênfase nos tempos mortos, pela recusa do psicológico em termos do mero "causa-e-efeito". Bom, é isso, to formalista demais....!!!!...