Depois eu Conto
Depois Eu Conto
De José Carlos Burle, 1956
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Esse primeiro filme do Burle que eu vi me pareceu em muitas medidas uma síntese de sua filmografia: um olhar para um cinema popular (o que quer que essa palavra signifique), um certo rigor mesmo numa estética de cinema clássico, a questão social. Na história do Zé da Bomba (Anselmo Duarte, muito bem) que quer casar com uma mulher rica e largar a pobre da Eliana, o que impressiona é o certo sarcasmo do personagem. Há um diálogo dele com um colunista social que quase desmascara a estratégia do filme: o filme é em muitos sentidos uma tentativa de acerto de contas com a hipocrisia da sociedade. É também nesse dasabafo uma espécie de manifesto ligeiramente rancoroso, que tbem mostra a impossibilidade do próprio Burle fazer os filmes que gostaria, e voltar para as chanchadas. Depois eu conto é também – dessa forma como eu vi – uma pequena homenagem ao cinema de Frank Capra, nessa generosidade do cotidiano, no discurso ético, na aposta franca (embora Burle seja um tanto mais sarcástico que Capra). Mais: Eliana luta pelo seu amado, vai à festa procurá-lo, não se faz de vítima nem rogada, atira objetos nele quando não gosta de uma resposta, tem atitude. De qqer forma, esse “desmascaramento da hipocrisia” é que dá ao filme um tom muito menos ingênuo e tolo (sim, tenho que admitir agora...) do que as outras chanchadas do Tanko (exceção de Mulheres à vista) que eu tinha visto anteriormente.
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