De Passagem
De Passagem
Ricardo Elias
* (talvez **, acho que não...)
Parece papo pra boi dormir mas cada vez mais se torna mais e mais difícil ver um primeiro filme, ver uma estréia de longa-metragem. Em De Passagem há muito para se falar sobre isso, sobre o que é um primeiro filme, sobre todo um cuidado que se deve ter com um trabalho que está apenas começando e por outro lado até que ponto este trabalho deve ser uma espécie de “declaração de princípios” do realizador. Ou seja, como é importante e como é vão um primeiro filme.
Em De Passagem há tudo isso. Porque de um lado parece claro o que atrai o diretor para o filme, e dessa proposta surgem os méritos do filme: a honestidade da encenação, o olhar para a periferia sem os clichês de sempre (alguém pensou em Cid....?), o cinema humano, a amizade e o papel do reencontro, etc.
Mas de outro lado não dá pra negar que De Passagem em alguns pontos desaponta, e para mim isto está relacionado a dois pontos: o roteiro e a decupagem. Porque ainda que seja um primeiro filme, ainda que seja BO (as condições de produção bem simples, etc.): são estes dois fundamentos que não dependem da grana, que dependem de um trabalho de planejamento prévio do diretor, que apresentam como o diretor CONSTRÓI este olhar, em como se apresenta a sua habilidade em transformar sua “declaração de princípios” na construção de uma obra de cinema.
E quando falamos nisso, (especialmente a bendita decupagem) De Passagem é muito tímido, ainda desvela uma falta de intimidade do realizador com seu ofício. Na dificuldade em determinar um ritmo, na falta de criatividade dos elementos de transição ou de passagem de tempo (e nem falo nos flashbacks, que acho qté bem resolvidos em termos da transição...), no corte do plano geral para o plano próximo, em determinar uma geografia (ou uma cartografia) do plano que contribua para a dramaturgia (esp no interior dos trens e ônibus), etc etc etc, De Passagem é um filme que poderia ser muito mais se houvesse um trabalho de base, uma maior consciência dos elementos de linguagem, num trabalho de direção mais consistente.
Mas não deixa de ser comovente e honesto, e não podem ser desprezadas as virtudes deste filme. Há um plano quando o Sílvio Guindane espera a resposta de Kennedy (Fábio Nepo) se ele reconheceu o corpo do irmão que é o grande plano do filme: um plano-seqeuência em close da expressão de Sílvio, segurando uma lágrima que acaba não caindo.
Ah, tem a trilha sonora, muito, muito ruim mesmo, chega a prejudicar o filme.
Fiquei também com a impressão – parcial e ultra-calhorda – que em várias medidas De Passagem pode ser (ou poderia ser) um exemplo para o atual cinema brasileiro, seja no modo de produção, seja no tema (o específico brasileiro e o cinema para exportação).
Ricardo Elias
* (talvez **, acho que não...)
Parece papo pra boi dormir mas cada vez mais se torna mais e mais difícil ver um primeiro filme, ver uma estréia de longa-metragem. Em De Passagem há muito para se falar sobre isso, sobre o que é um primeiro filme, sobre todo um cuidado que se deve ter com um trabalho que está apenas começando e por outro lado até que ponto este trabalho deve ser uma espécie de “declaração de princípios” do realizador. Ou seja, como é importante e como é vão um primeiro filme.
Em De Passagem há tudo isso. Porque de um lado parece claro o que atrai o diretor para o filme, e dessa proposta surgem os méritos do filme: a honestidade da encenação, o olhar para a periferia sem os clichês de sempre (alguém pensou em Cid....?), o cinema humano, a amizade e o papel do reencontro, etc.
Mas de outro lado não dá pra negar que De Passagem em alguns pontos desaponta, e para mim isto está relacionado a dois pontos: o roteiro e a decupagem. Porque ainda que seja um primeiro filme, ainda que seja BO (as condições de produção bem simples, etc.): são estes dois fundamentos que não dependem da grana, que dependem de um trabalho de planejamento prévio do diretor, que apresentam como o diretor CONSTRÓI este olhar, em como se apresenta a sua habilidade em transformar sua “declaração de princípios” na construção de uma obra de cinema.
E quando falamos nisso, (especialmente a bendita decupagem) De Passagem é muito tímido, ainda desvela uma falta de intimidade do realizador com seu ofício. Na dificuldade em determinar um ritmo, na falta de criatividade dos elementos de transição ou de passagem de tempo (e nem falo nos flashbacks, que acho qté bem resolvidos em termos da transição...), no corte do plano geral para o plano próximo, em determinar uma geografia (ou uma cartografia) do plano que contribua para a dramaturgia (esp no interior dos trens e ônibus), etc etc etc, De Passagem é um filme que poderia ser muito mais se houvesse um trabalho de base, uma maior consciência dos elementos de linguagem, num trabalho de direção mais consistente.
Mas não deixa de ser comovente e honesto, e não podem ser desprezadas as virtudes deste filme. Há um plano quando o Sílvio Guindane espera a resposta de Kennedy (Fábio Nepo) se ele reconheceu o corpo do irmão que é o grande plano do filme: um plano-seqeuência em close da expressão de Sílvio, segurando uma lágrima que acaba não caindo.
Ah, tem a trilha sonora, muito, muito ruim mesmo, chega a prejudicar o filme.
Fiquei também com a impressão – parcial e ultra-calhorda – que em várias medidas De Passagem pode ser (ou poderia ser) um exemplo para o atual cinema brasileiro, seja no modo de produção, seja no tema (o específico brasileiro e o cinema para exportação).
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