THE CHERRY TREE WITH GRAY BLOSSOMS
THE CHERRY TREE WITH GRAY BLOSSOMS
de Sumiko Haneda
Há um tempo atrás escrevi que a obra da Naomi Kawase é profundamente embebida pelos princípios do xintoísmo (por exemplo, ver aqui) – algo ainda mais pujante uma vez que sabemos que ela é de Nara. Mas, ao descobrir os filmes de Sumiko Haneda, percebemos então que existe uma linhagem ainda desconhecida por nós, ocidentais, em relação às artes audiovisuais japonesas. Vendo The Cherry Tree with Gray Blossoms, de 1977, as heranças do xintoísmo ficam ainda mais claras, e com ainda mais camadas. Nesse filme vemos e ouvimos o discurso da realizadora ao apresentar esse lugar no interior, mas, o que persiste, para além dessa apresentação, é uma forma de energia que aponta para o invisível, que, na falta de termo melhor, designo provisoriamente por kami. Dar concretude aos kami de forma tão discreta e ao mesmo tempo tão presente é o grande maravilhamento desse filme profundamente xintoísta.
Hoje se joga tanto pelo ar
palavras como política, resiliência, resistência... esse filme é sobre o
trabalho de uma comunidade para manter viva uma velha árvore. Mas não apenas
isso: é sobre a vida que continua ainda assim. Sobre o que permanece e sobre o
que se vai. Essa é a política desse filme: a natureza da vida comunitária.
“A cor dos ramos desaparece dia após dia
criando uma mortalha cinzenta de flores.
As flores cobrem a árvore
como um quimono fúnebre”
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