MALU
MALU
de Pedro Freire
O primeiro longa-metragem de Pedro Freire como diretor é um prolongamento coerente com sua trajetória na direção de atores/atrizes. Malu é um filme em que o elenco – e em especial a protagonista que intitula o filme – ganha um cuidado e uma atenção toda especial. Mas é preciso percebemos que Malu não é apenas um filme de personagens, mas é também um filme sobre uma personagem-atriz, e sobretudo um filme que desenvolve um pensamento sobre o ator/atriz no cinema. (É importante falarmos isso pois um “filme de atores” muitas vezes é confundido como um mero veículo para o star system, como um Meu Pai, com Anthony Hopkins, e o filme de Freire nunca vai optar pelo mero estrelismo fetichista). Uma forma de ver essa questão é se pensarmos que Malu não deixa de ser uma espécie de um entrecruzamento curioso entre Sonata de Outono e Uma mulher sob influência – filmes de dois cineastas extremamente conhecidos por seu trabalho com o elenco. Mas, à medida que o filme vai avançando, vai ficando cada vez mais claro que, para além do retrato psicológico da intimidade de uma família desajustada, Malu é sobretudo um filme político: um filme duro, que avalia – de forma ambígua, complexa e sem vitimismo – o fracasso de uma geração e especialmente de artistas de esquerda. Nesse sentido, Malu é bem mais interessante como cinema político do que Ainda estou aqui. Ao finalizar essa provocação, gostaria de sugerir a proximidade de Malu com Os dias com ele, de Maria Clara Escobar. Dois filmes duros que, por trás de uma relação entre mãe/pai-filha, falam dos abismos geracionais de um Brasil.
p.s.: Malu está longe de ser um filme de destaque "apenas" pelo trabalho com o elenco. Um exemplo é a enorme contribuição de direção de arte e especialmente da cenografia - aquele "centro cultural" eternamente inacabado, em obras, numa comunidade, assim como o Brasil - me lembrou algo como o Tudo bem, do Jabor. As lacunas temporais do roteiro, a fotografia, o formato de tela 4x3, etc.
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