THE BLUE GARDENIA
A GARDÊNIA AZUL
de Fritz Lang
(visto no Ciclo Noir do Cineclube
Araucária)
Dizem que a
diferença entre o bom jogador de tênis e o ótimo, é que este último encontra um
jeito de ganhar a partida mesmo nas condições mais adversas. Quando tudo está a
favor, não é tão difícil para um bom jogador jogar bem e vencer. Mas quando as
coisas não parecem bem, quando tudo leva a crer que será enfim derrotado, o
gênio é aquele que, mesmo assim, encontra um caminho inesperado e vence, tornando o impossível e o improvável
em algo aparentemente simples e fácil.
Me lembrei
disso ao ver BLUE GARDENIA de Fritz Lang. Esse gênio alemão, já no auge,
precisou deixar sua terra natal, e ir para os Estados Unidos, e fazer o que era
possível para sobreviver. Não se lamentou: fez o máximo possível para manter
seus filmes dignos. E curiosamente conseguiu manter uma improvável linha de
continuidade com sua filmografia alemã. O material de BLUE GARDENIA não é nada
promissor. Mas Lang é um gênio. Ele vence mesmo nas condições mais absurdas.
(Dizem que Lang tinha 22 dias para filmar, e ele filmou em 21 para entregar o
filme antes das férias de Natal rs). Tudo isso porque ele conseguiu compreender
o que é o cinema, e acreditou a fundo nas possibilidades do seu material, mesmo
que, em alguns casos, elas parecessem pequenas. Para além desse ponto, BLUE
GARDENIA pode ser visto como um filme atual por dois motivos: o primeiro é como
ele analisa as manipulações e as vilanias do cotidiano da imprensa, e a segunda
é como ele mostra de forma clara como as mulheres não podem nunca, nunca
confiar em um homem. Norah errou duas vezes, e só foi salva pelo espírito moral
da novela de Lang (que, por ironia, ainda usou uma música de Wagner para coroar
o verdadeiro assassinato). Essa novela noir barata acaba se revelando, nas entrelinhas,
como uma screwball comedy, especialmente pela tirada final (a do telefone e do
caderninho aposentado). Lang dirige um noir barato de segunda linha com a
elegância do Lubitsch touch. É para poucos. Por fim, como se não bastasse, a
cena em que Norah chega ao escritório do jornalista no amplo salão coberto pela
penumbra (parcamente iluminado pelo pisca-pisca de algum letreiro da cidade
insone) mostra todo o refinado estilo de Lang. Para além das confissões e dos
sufocados crimes de alcova, a cidade pulsa. Algo que nos remete a M e também a
Fúria.
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