DETOUR

DETOUR

CURVA DO DESTINO
Edgar Ulmer
1945


Para falar um pouco mais da poética do sublime de um filme tão pobre como Detour é preciso filosofar um pouco rs. Ver um filme como Detour me lembra que o cinema é uma arte decaída, uma arte prostituída. Alguns veem o cinema como a Sétima Arte. O cinema também é isso, mas ele, por outro lado, também pode ser visto como a mais vagabunda das artes, algo entre o folhetim, o pastiche, o almanaque – o que, no fundo, expressa a profunda ética do filme B. E esse é um filme verdadeiramente B. A pureza de um filme como Detour surge exatamente dessa esplêndida consciência de sua essência decaída. Uso o termo decaído tal qual os anjos celestiais decaídos que, uma vez condenados, passam a vagar pela sua existência terrena. A poética inesperada de um filme como Detour surge dessa consciência de viver cada pequeno instante fascinado por suas impurezas e por suas imperfeições. Detour é como um anjo caído. Fico realmente emocionado como Ulmer consegue fazer tanto com tão pouco, porque esse pouco é tudo o que se tem. Ulmer percebe como poucos todo o potencial cinematográfico do pobre material que tem em mãos. Em plenos 1945, o filme é um retrato do clima pessimista e desesperançoso dos EUA daquele momento. O filme parece um pesadelo a céu aberto, em que, se algo pode dar errado, ele certamente o vai. É asfixiante como esse viajante vai cada vez mais se perdendo ao longo dessa viagem que não vai chegar a nada a não ser a si mesmo. A mulher fatal que ele encontra no caminho é o símbolo máximo desse mundo hostil e perverso. Ao longo do caminho que o separa de sua amada, esse pianista (um artista desiludido e ingênuo) só vai encontrar o desespero e o desamparo do mundo cão. Niilismo surrealista embebecido de um pesadelo folhetinesco. Não tem volta, não tem saída: ele é culpado mesmo sem cometer nenhum crime. Detour é de uma solidão exasperante, sem nenhuma redenção possível. O final, irônico em relação aos códigos moralistas do Hays Code, mostra que o sonhado caminho para Hollywood nunca, nunca vai chegar. Só há a estrada escura, e o eterno caminhar. Nesse sentido, Detour é o oposto de La la Land rs.

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