(IFFR 2021): DIÁRIO FORTALEZA-ROTERDÃ - APRESENTAÇÃO - PARTES 1 A 3
COBERTURA DO FESTIVAL DE ROTERDÃ (IFFR 2021 JUNHO)
DIÁRIO
DE FORTALEZA-ROTERDÃ
APRESENTAÇÃO
PARTE 1 - O DESTINO
CONSPIRA A FAVOR
Este
ano, de volta ao Brasil, seria bastante improvável retornar ao Festival, porque
estava no período final do doutorado e também, claro, pelo custo. Mas o destino
conspira a favor. Se eu não posso ir ao Festival, o Festival pode vir até a
mim. Mero delírio, vocês poderiam afirmar com muita razão, mas no mundo
pandêmico tudo pode acontecer. Assim, pela primeira vez em cinquenta anos, o
Festival de Roterdã pôde ser visto pela internet, no mundo todo, para críticos
previamente credenciados. Tive a sorte de ser um deles simplesmente porque o
destino conspirou a favor. Então, daqui de Fortaleza, num calor de trinta e
sete graus, posso ter acesso às estreias mundiais do Festival de Roterdã.
PARTE 2 – A PARTE 2
Mas,
justamente em seu cinquentenário, as restrições por conta da pandemia atingiram
em cheio o evento. Assim, o Festival decidiu dividir suas atividades em duas
etapas: a primeira ocorreu entre 01 e 07 de fevereiro, com a Tiger Competition
(Longas e Curtas), os filmes da seção Big Screen e a Limelight (uma espécie de
panorama com filmes mais consagrados).
A
segunda etapa está acontecendo agora, entre 02 e 06 de fevereiro, composta de
quatro seções:
-
HARBOUR: uma nova seção em Roterdã, como uma espécie de panorama de tendências
do cinema contemporâneo mundial de invenção. Alguns dos filmes são world
premières, como o nosso Capitu e o Capítulo, de Julio Bressane, mas outros já
foram exibidos em outros festivais, mesmo europeus.
- BRIGHT
FUTURE: tradicional sessão de Roterdã voltada especialmente para primeiros e
segundos filmes, ou seja, para os jovens talentos do cinema mundial.
- REGAINED: filmes que têm o cinema como tema,
ou ainda, com tesouros do passado ainda pouco conhecido.
- MOSTRA DE CURTAS E MÉDIAS-METRAGENS.
PARTE 3 – A “VAC-CINE LAG”
O
destino conspira a favor, mas de maneiras misteriosas, que muitas vezes não
conseguimos precisar muito bem. Justamente no primeiro dia de festival, recebo
a tão esperada notícia de que devo tomar a vacina para a Covid já no dia
seguinte! O cinema é minha vida, mas há coisas que podem esperar rs. Depois da
vacina, fiquei um pouco grogue, com uma percepção um pouco mais lenta. Uma
reação normal, como parte prevista dos efeitos da vacina. Então, aproveitei
para repousar. Ou seja, repousar trabalhando rs, deitado em meu sofá assistindo
aos filmes do Festival. Não sei até que ponto influenciado por esse estado de
ressaca da pós-vacina, as imagens, que já sempre são desafiadoras em se
tratando de um festival como Roterdã, começaram a transitar em minha cabeça como
se fosse um grande sonho. É comum durante um festival de cinema que cheguemos a
um estado de percepção alterada, especialmente com muitos filmes vistos num
curto espaço de tempo, em geral comendo e dormindo pouco. Como estamos numa
outra cidade, em outro fuso, essa espécie de jet lag acaba se tornando um cine
lag. Pois bem, agora, depois de mais de dez longas vistos em dois dias,
embarco nesse estado de cine lag
combinado com uma circunstância extraordinária: essa espécie de “lag da vacina”. Como os termos são em
inglês (jet lag) e o festival é internacional (os filmes têm legendas em inglês),
me vejo no meio de uma VAC-CINE LAG.
Além
disso, o meu ar condicionado quebrou – algo razoavelmente sério numa cidade
como Fortaleza – e não quero trazer ninguém para consertar no meio de uma
pandemia. Resgato, então, o meu saudoso ventilador, mas preciso fechar todas as
janelas para que o famoso sol de Fortaleza não me faça companhia, e a luz
atrapalhe a projeção. Assim, vem-me o suor, não sei se do calor ou da vacina.
Mas não me sinto mal, não tenho febre.
No
intervalo entre os filmes, caminho um pouco dentro da casa para tomar um ar e
para checar se estou realmente bem. Sinto muita falta de caminhar nesse
intervalo entre dois filmes. Para mim, é sempre um choque sair de uma sessão na
sala escura e reencontrar o mundo lá fora. Fico com a sensação de que, depois
de alguns filmes, o mundo lá fora já não é mais o mesmo depois da exibição. Em
Roterdã, frequentemente era preciso caminhar entre uma e outra sessão, já que
os cinemas estão espalhados pela cidade.
Às vezes, eu precisava correr de um cinema para outro rs. Algumas vezes,
com mais folga, eu caminhava com mais vagar, deixando o filme sedimentar pelo
meu corpo, enquanto olhava aquela cidade que eu acabava de conhecer. Às vezes,
não dava pra andar muito, porque estava muito frio, muitos dias abaixo de cinco
graus rs. Especialmente à noite. Mas, especialmente para o meu estilo de
crítica, essa espécie de reflexão peripatética pós-filme sempre me ajudou.
Confesso o receio de que, com a vac-cine lag e sem a caminhada digestiva, a
reflexão peripatética perca o prefixo e se torne algo parecido com isso.
IFFR 2021 #JUNHO
DIÁRIO DE FORTALEZA-ROTERDÃ
PARTE 4 – O CINEMA-DE-PROBLEMA-DE-PESQUISA
PARTE 6 – O DOCUMENTÁRIO E SUAS TRADIÇÕES
PARTE 7 – O DOCUMENTÁRIO E SUAS TRANSIÇÕES
CRÍTICAS DE FILMES
CAPITU E O CAPÍTULO, de Julio Bressane (BRA)
A FELICIDADE DAS COISAS, de Thaís Fujinaga (BRA)
A MAN AND ACAMERA, de Guigo Hendrixx (HOL)
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