Outro dia tive que dar uma entrevista sobre crítica e respondi que o que me interessava no cinema era sobretudo as suas questões morais. O entrevistador não entendeu muito bem, e eu pude esclarecer dizendo que o que me interessava no cinema, mais do que questões estéticas, era como as opções de um realizador (opções que não se esgotam apenas na mise en scene de um filme, mas que se expressam sobretudo nela, ou seja, em questões sobretudo de linguagem, mas não apenas estas...) revelavam a sua visão do lugar do Homem no mundo, pois o que mais me interessa na arte é como ela compreende o Homem e como o empurra para transformar o mundo (e assim nos empurra). Assim, defendo o cinema como uma arte moral.

Por isso, alguns filmes podem ser fascinantes mas não me interessam muito. Em outros, a relação é ao contrário. Por exemplo, WINTER SLEEP é um filme que me interessa muito. O autor certamente vê o cinema como uma arte moral. O filme está concentrado em refletir questões morais sobre o papel do Homem. Assim, vejo o filme com total interesse, cujos pressupostos me interessam muitíssimo. E o filme é muito forte e bem realizado. Saio da sessão fascinado e seduzido pela sobriedade do discurso do filme. Porém, com mais vagar, a neve vai caindo. E percebo que, se Ceylan está totalmente imerso em refletir sobre o papel moral do cinema, não compartilho com esse olhar. Vou me afastando do filme. Por quê? Porque, na verdade, Ceylan não compreende de fato os seus personagens, mas os julga. Ele faz quase como o jogo que o protagonista faz com quem está a sua volta, uma espécie de jogo sofista de sedução fascinante. O filme tem uma base de fundo moral mas usa sua moralidade para fazer um julgamento do padrão moral de seus personagens, mais do que mergulha de fato numa situação humana de compreender sua natureza. O filme aparentemente busca entender as contradições interiores dos personagens, mas, quando refleti melhor, concluí que ele prefere julgá-los do que abraçá-los. Dessa forma, se compartilho com a preocupação moral de Ceylan em WINTER SLEEP, discordo frontalmente de como ele dá a ver o que é o Homem e o mundo, e qual o papel do cinema diante de suas limitações. Ou seja, que o mundo é uma merda (ou, uma "grande decepção", como diria Ozu) todos sabemos, mas a questão que vem a seguir é: o que fazer diante disso?

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