NOTAS DE TIRADENTES 2015 (III)
O SIGNO DAS TETAS, de Frederico Machado
Segundo longa-metragem do maranhense Frederico Machado, após
O EXERCÍCIO DO CAOS, O SIGNO DAS TETAS aprofunda a atmosfera asfixiante do
primeiro filme, a abordagem interior de um personagem masculino. Acompanhamos
então a trajetória errante e sinuosa de seu protagonista em direção ao mundo e
a si mesmo. Mas o que nos encanta em O SIGNO DAS TETAS é que, ainda que o filme
busque o aprofundamento interior dos dilemas e delírios de seu personagem, sua
opção nunca é pelo determinismo psicológico. Não temos aqui propriamente uma
narrativa de causa-e-efeito, apenas podemos acompanhar parcialmente um mergulho
radical e labiríntico de uma persona que se desconstrói.
Ou seja, há uma crise. O personagem vagueia, entre símbolos
e elementos da cultura maranhense, entrecruzando seus passos com a natureza - a
água, a floresta e a duna são elementos marcantes no filme (vide o esplendoroso
longo plano final, que surge após os créditos finais, e que nos faz associá-lo
a uma tradição do cinema de vanguarda que nos remete a LIMITE). Mas o ponto
central de O SIGNO DAS TETAS é que a crise do personagem transborda para a
própria estrutura do filme. Se um filme como OBRA, por exemplo, também aborda
um personagem em crise, essa crise não é do filme, que possui uma arquitetura
cristalina, que nunca se abala diante da crise do personagem. O personagem
procura entender e buscar os rastros desse apodrecimento. No filme de Machado,
não. O próprio filme é completamente contaminado pelo espírito inquieto,
confuso, telúrico, doentio, sensual do seu personagem. O próprio filme perde o
equilíbrio diante da falta de equilíbrio de seu protagonista. Assim, parece-me
mais honesto. Lado a lado, diretor e personagem caminham por uma aventura de
risco, sem que o primeiro julgue o segundo como um deus ex machina. O filme
tenta acompanhar seu personagem mas fracassa, pois sua essência lhe escapa. Há
rastros difusos, pistas, ele próprio não consegue entender muito bem; há fantasmas
que lhe atormentam, ele procura afeto, não sabe mais para onde vai, mas há uma
certa beleza nessa busca, ainda que mesclada com uma certa perversão. Ele
tenta, tropeça, levanta, prossegue o caminho, não há uma apatia. O filme se
agarra ao labirinto interior desse personagem, pois é tudo o que tem. Essa
honestidade me parece ser o grande trunfo de O SIGNO DAS TETAS.
Se O SIGNO DAS TETAS é sobre um personagem solitário,
assim também o é seu diretor Frederico Machado. Quase um herói que, diante do
pouco interesse e da pequena tradição cinematográfica do estado do Maranhão,
realiza seu segundo longa-metragem, e ainda possui uma distribuidora
extremamente arrojada (a Lume), uma sala de cinema (Cine Praia Grande), e
organiza um festival internacional de cinema.
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