LE MIRAGE - Guiguet





Guiguet bebe na fonte de um certo cinema francês, de Pialat e Brisseau. Um cinema que não busca as estripulias radicais da nouvelle vague. Um cinema que busca o interior dos personagens mas de modo que eles permaneçam opacos. Um cinema que abrace esses personagens e ao mesmo tempo os ame e os odeie - este é o mundo. Um cinema que busque a essência - essa palavra perigosa - por trás dor ardis do mundo e das armadilhas da imagem - oh como tudo é traiçoeiro. Mas Guiguet - diferentemente de Pialat e Brisseau - parece que aposta ainda mais radicalmente numa certa transparência. Um cinema que dialoga profundamente com um academicismo, mas que usa os artifícios desse mesmo academicismo para condenar o destino de seus personagens, sempre trancafiados em seus próprios limites, e que só conseguem a liberdade através da morte, que buscam ir além, mas quando tomam consciência da pequenez de seu mundo, e tentam amar, estão prontos para morrer. Essa é a trágica condição do cinema de Guiguet, é o máximo de sua rebeldia: expressar-se no interior desse academicismo para implodir os seus próprios limites, e não lhe restar nada a não ser contemplar essa pálida lembrança da possibilidade desse amor, dessa esperança. Guiguet não julga os claros limites de seus personagens mas ao mesmo não se identifica totalmente com eles - sua distância, no entanto, não é propriamente brechtiana. Ele os abraça moralmente, pois talvez seja a forma mais adequada - ou a forma possível - de acompanhar a sua decomposição. Em 1992, podemos pensar que LE MIRAGE é um filme sobre o fim da União Europeia, mas essa é uma extrapolação que, pelo menos aqui, não consigo sustentar.

Comentários

Anônimo disse…
gostei da sugestão lesbica dramatica da foto!!Marcos Punch.

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