um caminho estranho
(um texto que escrevi há uns seis meses, mas que talvez ainda seja atual....)
um caminho estranho
Há duas formas básicas de se fazer cinema: ou você tem muito
dinheiro, ou você tem muitos amigos. Eu não tenho muito dinheiro muito menos
amigos. Assim, considero um milagre a possibilidade de me manter fazendo
filmes. Ou melhor, mais do que um milagre, é um sinal de teimosia. Me sinto
fazendo filmes como se fosse uma criança, sem querer nada com isso a não ser o
simples prazer de ver uma imagem projetada, de ver uma imagem colando com a
outra e produzindo algum sentido. Um sentido misterioso que me faz entender
melhor (menos pior) um pouco mais de quem sou eu. Me sinto muito ingênuo quando
mais um de meus videos caseiros ficam prontos. Eles não são adequados para o
mercado; eles não são adequados para serem exibidos em festivais de cinema. Não
têm "glamour", não buscam ser arte. Não sei porque sou assim tão
ingênuo. Poderia buscar me adequar a isso. Porque conheço razoavelmente bem as
regras do mercado e conheço razoavelmente bem as regras do mercado de arte.
Mas, por algo que mexe dentro de mim, por algum motivo, não quero me inserir em
nenhum desses meios. Escrevo livros, dou aulas sobre o mercado cinematográfico;
organizo mostras de cinema, escrevo críticas sobre um certo cinema de arte
contemporâneo, mas, por algum motivo misterioso, não quero me inserir nisso.
Não me sinto bem nesses lugares. Não tenho muito o que conversar com as pessoas
que frequentam esses lugares. E, além disso, não tenho dinheiro nem tenho
amigos. Permaneço então teimando em fazer filmes mesmo assim. A essa altura
vocês já devem ter entendido porque não tenho muito dinheiro nem tenho muitos
amigos. Porque acabei trilhando - por obra do destino - um certo caminho
estranho, nem à sombra nem ao sol. Um caminho solitário. Nem sei se por opção
ou por destino. Acontece que quinze anos depois eu permaneço fazendo filmes de
forma solitária, e acho um verdadeiro milagre a possibilidade de fazê-los mesmo
assim. Aonde isso vai me levar? Provavelmente a lugar nenhum, mas eu permaneço
caminhando mesmo assim, porque é tudo o que tenho.
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