Algumas vezes é preciso romper com os amigos. Deixá-los para trás. Quando a gente decide que na vida é preciso caminhar, é inevitável que o caminho seja a solidão. Por um lado, pode nos parecer que tudo o que temos são as nossas amizades, esse aconchego de estar junto, mas há alguns – loucos, trovadores, poetas, bêbados, marginais – que se colocam numa certa posição em que a companhia do outro não parece ser mais possível se você deseja caminhar. É muito bom parar na beira do riacho, beber um pouco de água fresca, tomar um porre com um conjunto de amigos, brindar a beleza da vida, tomar banho de sol, mas chega um momento em que é hora de seguir. E essa caminhada é na maior parte das vezes solitária. Nesse caminho cruzamos com um montão de gente, que nos ajuda, nos oferece uma mão – sem ela não conseguiríamos nunca prosseguir – mas chega um momento em que é preciso dizer adeus. Algumas vezes é preciso deixar os amigos, as trouxas, os livros, para trás. Porque é preciso prosseguir. Mas não por vaidade, por ciúmes ou por teimosia. Mas simplesmente porque a gente resolve se colocar num lugar em que é preciso caminhar, sempre. É bom parar para descansar mas chega um momento em que é preciso prosseguir. E para prosseguir algumas vezes é preciso dizer adeus. Adeus. É preciso deixar algumas coisas para trás. É preciso deixar algumas pessoas para trás. É assim. Mesmo sabendo que prosseguir nesse caminho não nos fará chegar a algum lugar – chegaremos a lugar nenhum. Mas mesmo assim, movido por algo que não cabe dentro da gente, por um lugar que a gente mesmo se coloca e não sabe porquê, a gente resolve caminhar. Caminhar, caminhar. Até tudo se acabar. Para que outros eventualmente sigam essas trilhas e levem a outros e outros caminhos. Que não sabemos onde vai dar. Decerto a lugar algum.

Comentários

Anônimo disse…
Caro companheiro de viagem, caminho, caminho assim como você que apesar de só, encontro uma alma passageira que me toca levemte o ombro, e então volto a caminhar um pouco mais ligeira.
GIselda

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