1) Fassbender para diante do sinal. Para? Ele corre mas não olha para o mundo, não observa as pessoas, não troca olhares, não se interessa em de fato conhecer alguém. Está apenas voltado para si, ouvindo música. Para o filme, esse "sinal aberto" não é nenhum sinal de surpresa. Tudo milimetricamente planejado. É tudo tão bem composto que me parece que os carros foram contratados pela produção para estacionar em pontos da rua previamente demarcados, para oferecer composições espaciais mais interessantes para o filme. Assim como seu personagem, o filme sai para as ruas mas não consegue se contagiar com o mundo.
2) o personagem de Shame não consegue receber afeto. Lembra um pouco Rosetta, mas aqui é diferente. Enquanto a menina Rosetta pensa que deve ser bruta para sobreviver, em Shame o personagem não consegue abrir mão do equilíbrio do seu mundo que ele construiu com tanto esforço. Não quer ser como a irmã, sem nada sólido, traída pelo amor e sem dinheiro. Ele não quer abrir mão da sua "independência". Ele não quer ser como a irmã, mas no fundo queria ser como ela.
3) a descrição dos interiores em Shame é brilhante. A luz, os tons pasteis, a vista da janela não traduzem uma liberdade, mas um aprisionamento. Note a televisão ali no meio desse quarto. Esse "prostrar-se" diante da vista do mundo, ficando "do lado de cá", mostra muito do que o filme é feito.
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